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Causalidade e obscuridade | Lama Padma Samten

Trecho de ensinamento do Lama Samten durante o Retiro sobre o Sutra da Haste de Arroz, em outubro de 2015, no CEBB Caminho do Meio, na noite do segundo dia.

Chagdud Rinpoche tinha muitas histórias. Eu lembro dele contando da existência da realidade das bruxas. Aí ele falando assim, por exemplo, a pessoa, como se fosse um ser que ele desconhecia pediu carona para ele no cavalo. E aquele ser de repente se transforma e é uma bruxa. Histórias desse tipo. O imaginário tibetano é super fantasmagórico. Por isso que é super importante o Dorje Drolö. Isso para mim, quando fiz contato com o budismo tibetano, eu guardava Prajnaparamita. Ja era o meu foco. Aí eu olhava sempre com esse olho, o olho de Prajnaparamita, que é Dorje Drolö, o devorador de demônios; se as coisas todas são vacuidade, os demônios também, vamos simplificar né? Então isso nos ajuda a penetrar no imaginário. Aí, com respeito às bruxas, a gente diz “isso é, isso não é… pero que las hay las hay!”. Yo no creo, pero… (risos). Mas se aplica isso, né. É, não é, é. A gente vai entender assim. Aí a gente não vai tirar o “é” da terceira afirmação, mas a terceira afirmação inclui a compreensão da coemergência. Aquilo é coemergente com a minha mente.
Se a gente está dentro de uma bolha mental onde essas coisas todas acontecem, a gente encontra uma causalidade para isso, a gente considera que isso é verdadeiro. Uma linguagem! Uma linguagem é assim. A gente está imerso na linguagem da causalidade. A causalidade é um perigo verdadeiro. Vai passar o tempo que a gente vai olhar a linguagem da causalidade como uma época obscura semelhante a da Inquisição. Aquilo era uma coisa densa. Tem uma obviedade do aspecto não-causal, mas a gente não vê isso. A gente vê tudo causal. A gente vai convertendo tudo. Do mesmo modo que nesse tempo a gente vai convertendo tudo para economia, a gente converte assim, “desenvolvimento é crescimento econômico”. A gente não consegue raciocinar … Todo mundo raciocina desse modo. Isso é uma nuvem de obscuridade. Então do mesmo modo, a gente fica olhando processos de transformação a partir de causalidade; a gente esquece o fato de que a gente pode simplesmente mudar. A gente acredita em diagnóstico, fixa, prende o outro em diagnóstico, depois usa um método causal para mudar, e não tem resultado. Por exemplo, nós não estamos num tempo em que a luminosidade é o nosso recurso. Nós temos a liberdade de fazer as transformações, a gente não trabalha nenhum método desse tipo. A gente trabalha em métodos causais, e acredita que nós somos fixados, e a gente justifica a nossa fixação por eventos que aconteceram… a fixação não vem dos eventos, a fixação vem da fixação! A solução para a fixação não é um outro evento, é a não-fixação. A não-fixação está sempre disponível para nós. A gente não vê isso. A gente vê a necessidade de um outro evento, de um outro treinamento, de uma outra coisa, de um outro condicionamento. Isso complica as coisas, assim, isso complica, atrapalha.
Com respeito à saúde também, é uma coisa curiosa. A gente poderia, por exemplo, estimular todo o processo óbvio, que e o processo natural de sustentação da saúde do corpo. Mas a gente tem uma tendência a acreditar que eu tenho que fazer alguma coisa heróica e diferente para contrabalançar um efeito. Então a gente trabalha menos com a nossa capacidade de cura, de estimular a própria capacidade de cura. A gente fica localizando desequilíbrios para introduzir métodos artificiais para reequilibrar. Mas a gente não se dá conta que nós temos os processos naturais para nos reequilibrar, senão nós ja estaríamos mortos há muito tempo. Aí a gente introduz os fatores artificiais, eventualmente os fatores artificiais prejudicam a saúde, trazem outros problemas, problemas colaterais. O fato de a gente perder a saúde e ter vários danos a partir de tratamentos é uma coisa hoje super conhecida. Tem um número expressivo de pessoas que têm agravamentos e sequelas de uso de medicação e tratamentos variados. A sequela é causal. Ela toma um medicamento que causa um dano. Aí pode ser que ela consiga se recuperar. Aí tem os medicamentos que têm as contra-indicações e de repente aquilo opera. A causalidade ocorre, mas ao noção de que a causalidade é o único recurso e tudo e causal, isso é assim… por exemplo, os tratamentos têm mudado. Por exemplo, tinha uma época em que as pessoas tinham a noção de que elas tinham que combater. A noção de saúde vinha dentro de uma perspectiva militar: eu tinha que combater inimigos dentro de mim. Então isso é uma perspectiva causal desse modo. A gente não entendia bem o processo do próprio corpo. Hoje, eu acho que nós temos a tendência de interferir menos. Por exemplo, eu tenho um ferimento, eu procuro intervir menos. Mas houve uma época em que tu tinha um ferimento e tu tinha que intervir: tinha que botar mercúrio cromo, mertiolate, botar alguma coisa. Hoje é assim, tu lava com soro ou com água, porque o corpo cura. Aí quando tu tem um ferimento e começa a botar medicação, pode ser que aquilo não cure. Porque pode ser que o ferimento comece a reagir ao remédio, que pode ser um pouco agressivo e começar a irritar ali, aí porque não cura tu começas a botar outros remédios. Aí com o tempo tu tens um problema. Mas não é o remédio que cura, é o corpo que cura. Então é super importante entender isso, como é que o corpo cura, como é que ele faz esse processo. Mas a gente tem a tendência a pensar que a saúde vem através de recursos de manipulação. Não que não possa vir também, mas essencialmente o corpo vai curar. Pode ajudar esse processo; se o corpo não ajudar, tu não tens chance alguma. Então na Naturopatia tu vais trabalhar com isso: tu vais ajudar o corpo a se ajudar. 
Assista o vídeo do ensinamento
 O trecho transcrito encontra-se em 1:17:40 no vídeo.

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