Skip to content

Budismo, meditação e cultura de paz | Lama Padma Samten

Trechos de ensinamentos durante o Retiro de Verão 2018

Vídeo #1

ORIGEM DEPENDENTE E NATUREZA PRIMORDIAL

“O Buda mesmo compreendeu que a origem dependente é inseparável da natureza primordial e produz essa visão expansiva e contínua de construções sucessivas. A partir de bases já previamente construídas, nós reconstruímos adiante. Isso é muito parecido com a descrição tradicional do Véu de Maya, como é descrito na tradição védica. A partir de uma laçada já existente produzimos uma nova. E assim vamos indo. Se vocês olharem as nossas vidas, é assim: de alguma coisa já existente construímos outras laçadas e, a partir dessas outras nós construímos outras, e das outras construímos outras…

A ação da nossa mente é de modo incessante e contínuo. Nós fazemos novas laçadas e aquilo parece o brilho da nossa inteligência, parece nossa energia. O nosso brilho se manifesta nessa expansão incessante. Essa expansão não se dá num nível concreto, ainda que pareça se dar por coisas concretas. Como as coisas são construídas, só parecem concretas. Na verdade, a substância interna real das coisas é o significado que atribuímos àquilo.

Então, damos uma laçada e atribuímos um significado a ela. Assim, terminamos construindo uma teia e, em qualquer direção que olharmos, as coisas têm significados específicos que brotam do que tínhamos na mente e na energia quando produzimos aquele movimento, aquela laçada específica. Assim, vamos construindo a realidade inteira, o mundo inteiro, eles se constituem disso.

Como os seres são diferentes, também veem as teias de um modo particular. As realidades vão se desenhando desse modo. Elas também mudam porque, na medida em que os nossos olhos mudam, os significados que atribuímos às coisas também mudam e as coisas vão se sucedendo. Como operamos com desejo e apego, a transformação das aparências pode produzir em nós aflições e sofrimentos. O Buda compreendeu isso totalmente, o aspecto além de vida e morte das nossas existências, que é um tema crucial.”

VIDA HUMANA PRECIOSA

“Entre todos os seres do samsara, os humanos encontram uma chave para entender o que está acontecendo. Os outros seres podem ser muito espertos, muito rápidos, muito hábeis em muitas diferentes coisas, mais do que os seres humanos. No entanto, eles não têm uma linguagem, não têm um ensinamento, uma possibilidade de entender esses aspectos profundos da existência.

Então, se diz que o Buda veio em corpo humano. Eu sempre acho isso um pouco injusto. Acho que deveria ter vindo também budas em outros corpos que pudessem ajudar os outros seres em outros âmbitos. Eu, às vezes, desconfio que existem budas em outros corpos, em outros seres, não apenas nos humanos.

Mas nos ensinamentos budistas se diz que a vida humana preciosa é justo por isso, porque só os seres humanos realmente acessam essa visão. Nós temos uma natureza humana preciosa, isso é muito extraordinário. Não precisaríamos viver de um modo obscuro, fechado, incapaz de reconhecer a amplidão de tudo. Nós poderíamos viver na consciência da realidade como ela é. Não precisaríamos ficar presos a uma vida comum.

Esse aspecto da vida comum é muito interessante. Nós repetimos, ano após ano, as coisas comuns, esperando não envelhecer, mas vamos envelhecendo. E as coisas comuns apenas se repetem, pois elas são coisas comuns.

Eu acompanhei várias pessoas, algumas próximas, se aproximando da morte no período final. Vi que elas tinham impulsos e visões comuns. Ao se aproximarem da morte é tudo igual. Lembro de um amigo que tinha um grande coração, uma compreensão de ecologia, de fontes alternativas de energia, uma pessoa super hábil. Usou a vida dele de uma forma criativa, interessante. E ele se aproximou da morte assim também, tinha ideias comuns. Foi um dos primeiros que criou uma planta industrial para processamento por biodigestão para gerar energia, metano, e, a partir disso, tocar uma indústria. Ele fez um projeto belíssimo. Então, ele tinha essa mente.

E ele foi envelhecendo, eu o vi assim, com incontinência urinária, andava sempre com recipiente para colher a urina. Viveu quase dez anos assim, eu acho. E a felicidade dele era ir a um restaurante comer alguma coisa. Nos últimos anos, não falava mais. Ele quase morreu, retornou, passou mais uns quatro meses vendo televisão assim. E, então, morreu aos oitenta e seis anos, mais ou menos. A vida dele passou. Isso é um pouco inútil.

A visão comum se repete, nós usamos as mesmas coisas de novo, de novo e de novo. Até que o nosso corpo está desgastado. E nós fazemos como podemos o que sempre fizemos, até não poder mais… E morremos. Não é uma coisa muito extraordinária. Em outros tempos se dizia: os velhos têm sabedoria. Agora a situação está ficando assim, eles têm uma sabedoria de que as coisas passam, mas isso não é propriamente uma sabedoria. Isso é um jeito de perder tempo. Na vida comum nós perdemos tempo.

Os ensinamentos, especialmente os tibetanos, dizem: nós temos uma vida preciosa, não deveríamos perder tempo; deveríamos usar essa vida humana preciosa e direcionar a nossa vida de uma forma apropriada. No mínimo, não embarcar no carnaval e fazer um retiro, uma coisa direita [risos]. Isso é um bom sinal!

Os ensinamentos tibetanos dizem nos Quatro Pensamentos que Transformam a Mente: você tem uma vida humana preciosa, mas ela é impermanente. Todas as condições favoráveis dessa vida humana preciosa, como saúde e lucidez, repentinamente podem desaparecer.

Chagdud Tulku Rinpoche também dizia assim: olha, não tem uma fila por idade. Não quero preocupar vocês, mas a fila não é por idade. Ele mesmo viu muitos alunos bem mais jovens do que ele morrer. Esse é o ponto. Chagdud dizia: nós morremos por carma… O carma conduz o processo e define a duração da vida.

Na visão tibetana, se nós salvamos vidas, a nossa vida se prolonga. Chatral Rinpoche foi um exemplo disso. O ensinamento e a prática dele, por muito tempo, foram salvar a vida dos seres. E ele teve uma longa vida. Muito extraordinário. Mas, ainda assim, lá pelos cem anos todo mundo morre. Se não for nos oitenta, noventa, setenta, sessenta… As pessoas vão morrer, num certo momento morrem.

Então, entendemos aquilo que é vantajoso, que nos permite fazer práticas, dedicar a nossa energia, focar a mente, sentar reto e estudar, olhar numa certa direção, tentar obter resultados e avançar. Essa energia vital se esgota. Tem um momento em que nós estamos com dificuldade de fazer isso. É importante nós aproveitarmos a vitalidade que temos e seguir.”

 

Vídeo #2

“Em qualquer lugar do samsara em que se esteja, o ponto da prática é guru ioga.”

 

Vídeo #3

A REALIDADE É COEMERGENTE

“O sofrimento é coemergente. As realidades são coemergentes, todas coemergem. Nós encontramos vários exemplos disso. Se começarmos a compreender que a arte é mais próxima da realidade do que a ciência, nós estamos andando numa direção interessante. Porque a realidade, como vocês veem, vai mudando. O passado muda. Como é que o passado muda? Se o olhar muda, o passado muda. O futuro não precisa acontecer, ele existe no presente, é uma visão. Assim, a visão que eu tenho do futuro também muda. A coemergência vai produzindo isso.

Na medida em que nós percebemos a substância da realidade se aproximando mais da arte do que da ciência – enquanto busca de uma realidade objetiva externa e fixa -, percebemos que o mundo é muito mais complexo. Ele é muito mais colorido, muito mais variado. Há uma maleabilidade, uma possibilidade. Existe uma possibilidade de mudança e transformação das coisas. Isso é interessante.”

ESTADO MEDITATIVO E LUCIDEZ

“Vocês vão encontrar os textos, ensinamentos de grandes mestres, múltiplos mestres… Vocês vão ver que estamos indo em direção à lucidez, nós não estamos indo em direção ao estado meditativo. Os estados meditativos são considerados meios de passagem, como condições favoráveis, mas não substituem a lucidez. A lucidez não é um estado meditativo. Ela é uma clareza. Isso é chamado de visão. Lucidez é visão.

Então, nós precisamos de visão. A visão não é um processo cognitivo, não é um grande livro que a gente decorou e decodificou tudo. A visão se torna natural. Isso é objeto de ensinamentos longos, de um esforço contínuo dos budas e dos mestres para nos introduzirem no que seria visão. A base da visão é guru ioga. Estamos andando nesse movimento.”

“O aspecto comum da vida é mágico, extraordinário. É melhor viver o aspecto comum da vida reconhecendo esse aspecto mágico.”

Vídeo #4

MOTIVAÇÃO E AÇÃO NO MUNDO

“Quando nos deslocamos pelo samsara, não há alguma coisa que você faça que não tenha aspectos positivos e também algumas dificuldades. Não há como evitar isso. A nossa demanda é realmente transformar qualquer coisa em caminho. Por exemplo, se enquanto você trabalha aquilo é caminho, então isso é caminho. Se quando você trabalha você tem a sensação de que aquilo é apenas uma agitação, não seria o caso. Do mesmo modo, se você está fazendo prática, eventualmente ela te ocupa ou é algo que tem a motivação menor. Assim pode não ser vantajoso também. É importante a motivação.

Se você tem a motivação adequada, a ação no mundo, trazer benefícios aos seres, é uma forma de praticar. A vacuidade está diretamente ligada a isso. Quando utilizamos visão e a associamos à ação, quando você se movimenta no mundo, naturalmente vê que as coisas não são fixas. Elas não são nem boas nem ruins, não precisam ser classificadas desse modo. Nós não precisamos ficar presos à sensação de que a coisa é favorável ou desfavorável, ao gosto ou não-gosto. A pessoa treina diretamente isso, a estabilidade da energia. Enquanto ela faz isso, está vendo a energia brotando de uma região livre da mente. Esse é um ponto importante.

Através de uma prática que não é cognitiva ela vê a energia, mobiliza a energia de forma autônoma, independente das aparências das coisas ao redor. Isso é uma prática. É uma prática diretamente de guru ioga. Se a pessoa tem a sensação de que está ocupada, demandada por coisas causais e está perdendo tempo em relação à sua própria prática, então ela está perdendo tempo mesmo. Seria o caso de ela observar isso e melhorar a motivação.”

TRÊS JÓIAS

“O Buda, olhando de um ponto de vista mais profundo, é o próprio buda primordial, é o aspecto do espaço que produz a manifestação da luminosidade da lucidez em nós. Então, o Buda se manifesta desse modo.

Junto com o Buda nasce o Darma, a capacidade de reconhecer lucidamente as várias experiências. E a Sanga, inicialmente, surge como os mestres iluminados que têm o Darma de uma forma espontânea e natural. Mais adiante, vamos entender a Sanga como a manifestação dos seres que praticam de algum modo, mas nós vamos estendendo, estendendo, estendendo… No fim, a biosfera inteira faz parte da Sanga porque, de alguma maneira, a biosfera mantém a nossa vida, que é o que nos permite praticar. Enfim, a Sanga se funde com todos os seres. E desse modo, Buda, Darma e Sanga também se fundem com todos os seres.”

 

Vídeo #5

O BODISATVA EM TEMPOS DE DEGENERESCÊNCIA

“O bodisatva é aquele que vai acolher e trazer benefícios onde os seres estiverem. Vejo isso também quando Sua Santidade o XIV Dalai Lama usa esta expressão: todos os seres aspiram à felicidade e a se livrar do sofrimento. Eu acho isso sempre um pouco comovente. O caminho Mahayana é você desenvolver a habilidade de encontrar os seres onde estiverem e dar uma laçada, ajudar a pessoa a encontrar lucidez a partir daquele ponto e seguir.

Um dos obstáculos que podemos localizar facilmente é que os tempos de degenerescência estão se ampliando. Cada geração sempre tem essa sensação. Os bodisatvas começam a perder a capacidade de serem bodisatvas se eles perderem a capacidade de entrar nesse mundo virtual (telas, celulares, etc). Os bodisatvas entram em qualquer mundo.

Esse desafio é interessante. Se nós temos um amargor pelas aparências que as coisas têm, estamos com algum problema, porque o bodisatva não tem amargor. Ele olha, vê o aspecto ilusório e luminoso que constrói aquela realidade. “Uau, que interessante essa prisão em que as pessoas estão”!

Quando eu olho as prisões de hoje, sempre acho mais débeis do que as de outro tempo. A prisão virtual é muito mais débil do que uma vida estruturada. Se você não trabalhar todo dia, plantando, cortando, semeando, cuidando dos animais, você não vai ter o que comer daqui a alguns dias. Nos dias de hoje é muito mais fácil: a emoção vem da tela ou de você? Já estamos num aspecto virtual que não se pretende concreto.

A vida como vivíamos há dez anos ou mais era mais concreta. Hoje, a vida é totalmente abstrata. Assim, é muito mais fácil você olhar os elementos e ver que são construções. É mais simples introduzir o papel da mente nas construções da realidade. É mais fácil trabalhar com as emoções, porque elas são todas artificialmente construídas por gráficos que vão aparecendo. A pessoa consegue trabalhar melhor esses aspectos internos.

Olhando sob a perspectiva dos bodisatvas, o mundo é o surgimento das bolhas de realidade como chamas num fogo, as labaredas vêm e cessam. As realidades vêm e cessam, mas o fogo segue. Então, o samsara é um fogo. O mundo todo são labaredas que surgem e cessam. Não tem um significado maior ali dentro, em nenhuma delas, mas surgem. E não tem uma rigidez nisso, tem uma impermanência natural nesse surgimento.

De fato, o que existe incessantemente presente nisso é o espaço onde tudo isso surge. Podemos imaginar esse espaço como se fosse físico. Esse é um dos exemplos que se usa no budismo tibetano, como o espaço mesmo. Chagdud Tulku Rinpoche dizia: os pássaros passam, cruzam os céus e não deixam rastros. Essa é uma forma de falar sobre isso que estou chamando de labaredas. Aquilo vem e se dissolve, mas existe um lugar onde aquilo acontece. Esse lugar é o espaço que não é marcado, ele segue livre.”

Vídeo #7

ESTADOS PARTICULARES E LUCIDEZ

“Na medida em que nós sentamos em meditação, Dudjom Rinpoche oferece várias possibilidades. Ele apresenta, de um certo modo, como nós direcionamos nossa atenção e energia na altura do coração. O resultado disso é que percebemos nossas aflições mentais. Todas as coisas de que nós temos medo, apego, são manifestações da mente.

Na medida em que vamos mantendo essa condição meditativa, vemos que os fantasmas, as coisas negativas e positivas, o que nos arrasta em todas as direções, tudo surge e cessa. Lentamente, percebemos que há uma condição livre em que as coisas surgem e cessam. Isso é um ponto super importante que vai dar origem progressivamente à visão prajna. Quando prajna surge, na sequência, surge o que se chama sabedoria primordial, que é a lucidez que brota desse lugar não condicionado.

Então, como vocês veem, o objetivo não é fixar um estado particular, nem tampouco fixar uma condição em que nada surja na mente. O objetivo é ter lucidez frente ao que surge. Esse aspecto de lucidez é obtido não por um estado particular ou por um conjunto de referenciais particulares que nós utilizamos para olhar. Isso seria uma posição religiosa, em que postulamos um conjunto de elementos de uma posição religiosa que torna aquilo verdadeiro em contraposição a outras condições que vão definir outras tradições ou algo parecido. Assim, aquilo se torna uma coisa sectária. Sempre que houver um conjunto de referenciais escolhidos, temos algum problema. Com o tempo, especialmente esse conjunto de referenciais se revela falho, ele não pode dialogar  e trazer elementos que efetivamente ajudem. Esse é o problema das tradições religiosas reveladas.

Está certo que essas tradições também podem passar por um processo de interpretação positiva e aquilo vai mudando. Mas os processos de interpretação não são unânimes, é natural que vá surgir uma fragmentação da tradição, porque vão surgir diferentes líderes da mesma tradição que interpretam de modo diferente. Eles vão tomando outros referenciais e olhando as próprias palavras da revelação como significados específicos, há outros que interpretam de outros jeitos… Então, vão surgindo facções de vários tipos que podem se abrir mais adiante. Isso é complexo. É assim: o que é construído envelhece, não tem solução. O budismo não vai operar dentro disso.

Nesse sentido, o budismo ultrapassa a noção religiosa, se dilui enquanto uma tradição religiosa, porque não vai adotar uma posição construída, revelada, que vai ser imantada na imagem do Buda; nós não vamos ser alguém que vai repetir algum tipo de condicionamento mental diário.

Na medida em que avançamos na prática, vamos compreendendo esse aspecto. Por exemplo, a meditação não é para encontrar alguma coisa budista e se fixar em algum lugar, mas é para elucidar o processo pelo qual as coisas surgem, sendo e não sendo reais. Ainda que eu diga que elas são reais e não são, isso não é completamente verdadeiro, porque elas são o que têm que ser, intersubjetivamente verdadeiras, elas funcionam. Mas isso não é absoluto, não é final, é passível de uma mudança”.

“Essa teoria de “descobrir quem você é” (para decidir o que fazer da vida), para o budismo, é uma teoria estranha, porque se a pessoa descobre, ela atinge a iluminação, aí estragou tudo, aí sim que a pessoa não vai fazer vestibular. Quando a pessoa descobre quem ela é, no sentido comum, é um engano”.

“A gente pode imaginar um futuro que nunca vai existir. De modo geral, todos os nossos futuros nunca vão existir. As nossas visões assim “o Brasil isso… a nossa vida isso ou aquilo…”, melhor relaxar, pessoal. Pensem se aquilo que vocês estão vivendo hoje foi planejado ou visto antes. Não foi! Melhor relaxar! Melhor manter a motivação e tentar fazer o melhor em cada momento. Aí vocês vão ver que a gente vai muito mais longe do que qualquer perspectiva de longo alcance que a gente teve em outros tempos. A gente vai muito mais longe. É assim.”
“De novo eu penso sobre a situação dos persas e dos gregos. Os persas sabiam que iam perder. Mas então por que eles seguem? Por que eles não se mandam? Por que eles não mudam tudo? Mas eles não mudam. Então nós, que sabemos que a sociedade como está organizada não resiste, por que a gente não vira tudo? Por que a gente não sai e transforma tudo? A gente não transforma. A gente vai até o fim e aquilo vai explodindo. Como é que é isso? A gente poderia dizer que tem uma maldição. Mas não é uma maldição, é uma intersubjetividade, uma visão de mundo. Nós, individualmente, não conseguimos surgir dentro desse contexto de um outro jeito a não ser como nós andamos. A gente não sabe como fazer. Isso vocês podem olhar em vários setores. Tem pessoas no mundo político que querem fazer diferente, mas estão com dificuldade”.
 

Vídeo #8

LUCIDEZ NÃO TEM CONTRA-INDICAÇÃO

“O maior benefício que podemos trazer está em qualquer área. Lucidez não tem contra-indicação. A visão mais ampla é melhor. Se nós tomarmos esse ponto por objetivo, vamos desenvolver uma visão mais ampla. Isso seria uma boa coisa. Essa é a primeira prioridade. O conhecimento num sentido físico é bem menos importante. O mais importante é a atitude, porque conhecimento é fácil, aprendemos rápido. “

 “Essencialmente, nós temos a capacidade de aprender, de estudar, de fazer o olho brilhar, de se interessar pelas coisas e avançar. Esse é o processo usado no budismo. Mas eventualmente as pessoas, dentro da estética do mundo, elas buscariam ser alguém dentro de uma estrutura, alguma coisa assim. Essa estética não funciona bem dentro do budismo, não funciona. Não funciona assim. Isso é meio complicado. Porque o ponto é atingir a liberação, atingir a lucidez. Eu acho efetivamente que se as pessoas relaxarem essa tensão e buscarem trazer benefício aos outros e ampliarem a sua visão, elas vão gerando uma capacidade de andar super bem dentro do mundo condicionado, dentro do samsara”.
 

Vídeo #10

BUDISMO E CIÊNCIA

“É assim: se nós dependermos das sinapses, dá problema. Por exemplo, você observa, primeiro fazemos uma operação. E tal operação é livre de uma operação pré-existente, não é verdade? A sinapse vai ocorrer na sequência. Então, tem uma liberdade antes da sinapse. A sinapse é um carma. Ou seja, eu vou estabelecer uma conexão em um nível grosseiro, ela aparece em um nível grosseiro. Mas não começou em um nível grosseiro. Começou em um nível sutil, nós repetimos cento e oito mil vezes, e depois aparece uma coisa no nível grosseiro. Quem está operando e vendo coisas só no nível grosseiro, vai dizer “óóó, é a sinapse!”… Mas me parece uma coisa completamente óbvia, não precisa nem discutir.

Primeiro, eu faço uma operação mental que vou repetir muitas vezes. Depois vai surgir uma sinapse. A sinapse é a origem daquele funcionamento? Não é. Mas, volta e meia, nós ouvimos por aí: tudo é o cérebro.

Por exemplo, a pessoa vai parar numa academia, vai malhando e vão surgindo músculos. O que veio antes, a mente ou o músculo? É a mente que vai fazer aquilo. Aquele resultado é grosseiro, mas vem de um aspecto sutil. Com esse aspecto sutil nós podemos fazer operações em sonho, não precisamos nem ter operação do sentido físico comum.

Ignorância & Luminosidade

De qualquer maneira, essa questão remete a uma outra questão interessante, que é assim: enfim, por que precisamos fazer prática se aquilo já estava ali? Se é uma coisa natural, que já estava lá, para que eu vou fazer prática? Aquilo já está lá, como se perde? Quem perde? Nós não deixamos de acessar porque a ilusão toda é a manifestação daquele jeito, já está operando. Não tem como operar a ilusão se não pelo aspecto luminoso, que é livre, e pela energia que brota do aspecto primordial.

Agora, vocês vejam: nós somos o referencial condicionado, automático, e uma mente livre operando sob um conjunto de referenciais condicionados. Esse referencial apresenta um mundo circundante. Esse mundo circundante surge junto com o observador que o vê, como aquele exemplo do cubo. A relação entre esse par é baseada em referenciais construídos. Eu poderia chamar isso de ignorância ou de luminosidade.

Na ignorância, aquilo opera de um jeito, a partir do qual eu não tenho lucidez nenhuma, eu reajo àquilo. Mas, ainda que seja ignorância, é luminosidade. Na base, a única substância que tem ali é a luminosidade. Se eu for encontrar alguma outra substância para o cubo, eu vou me enganar.

Esse desenho do cubo é interessante, tem duas dimensões. Podemos perguntar: em qual dimensão está a aresta? Está no papel, antes do papel ou atrás do papel? Tem algum lado do cubo no papel? O cubo tem três dimensões, eu não consigo ter todos os lados e todas as arestas no papel. Então, o cubo começa a ficar estranho. O que do cubo está no papel? O papel também perde o sentido quando eu olho o cubo no papel, ele não tem lugar para ser colocado. Então, vamos construindo uma realidade luminosa. Nós construímos as realidades, nós surgimos junto com as realidades. A realidade é luminosa.

A questão é assim: quando não há estabilidade no aspecto primordial para olhar, olhamos desde o aspecto condicionado. É a única opção que temos. É nessa circunstância que o Darma faz sentido.”

Vídeo #13

“O sofrimento não é real, ele é uma experiência que nós temos.”

É MELHOR DESCOMPLICAR

“O ponto mais importante é justamente a prática, porque ela desenvolve visão, andamos rápido. E a partir do ponto em que estamos, desenvolvemos algum nível de habilidade. Olhamos em volta e vemos outras coisas que foram propostas e faladas. E então, temos muito mais rápido condição de acessar aquilo. É muito mais rápido desse modo, pois quando olhamos os ensinamentos, eles não são mais propriamente uma novidade, uma vez que nós estamos praticando aquilo.

Acredito que o tempo passa e eu considero que realmente esse eixo das Quatro Nobres Verdades, da Iluminação da Sabedoria Primordial, que é uma versão tibetana vajrayana, é uma boa coisa. Vocês observem, Buda ensinou isto: as Quatro Nobres Verdades – sofrimento, as causas do sofrimento, superação do sofrimento e os oito passos. Se vocês olharem os ensinamentos tradicionais em páli, são curtos, não têm uma complexidade intelectual. Eles vão dizer:  agora, pratique.

Eu acho melhor descomplicar. É melhor ir direto. Quando digo descomplicar significaria assim: não se prender a uma enorme abundância de possibilidades e instruções, mas focar na prática. Focar, encontrar esse eixo e seguir, entendendo, por exemplo, que essa enorme abundância pode ser colhida, mais adiante, desde que a gente vá desenvolvendo algum nível de realização.

A realização é o processo pelo qual nós terminamos colhendo esses outros aspectos. Depois de vencer certas etapas, vocês podem passar por outros lugares e, então, colher forças de novo. Mas, primeiro, vençam as etapas.”

POSIÇÃO DE MEDITAÇÃO

“Várias posições de meditação são possíveis, porque a questão não é a posição, a questão é não se mover. Nós vamos repousar em uma posição para poder deixar a nossa mente livre.”

Vídeo #14

“O avanço na prática de shamata se dá pela continuidade, e não pela perfeição.”

Vídeo #15

A NATUREZA PRIMORDIAL SEGUE INTACTA

“Eu acho importante entendermos que se nós sentarmos perfeitamente, estável, e fizermos uma boa prática, a natureza primordial não aumenta nem diminui. Se fizermos tudo errado, a natureza primordial não aumenta nem diminui. Acho isso essencial, porque nos dá uma distância em relação ao próprio método. Não ficamos dependentes do método.”

Vídeo #17

O TREINAMENTO DA MENTE NA PERSPECTIVA DE MANDALA

“Neste tempo, eu acho melhor nós usarmos o processo de mandala. É um super diferencial poder usar o método da mandala, que introduz uma espécie de disciplina mais sutil. Ela envolve o nível sutil junto, não apenas o grosseiro. Não é assim: eu vou só disciplinar a minha ação externa. Eu vou também ajustar o aspecto sutil da minha mente, incluindo as emoções, o foco, a capacidade de ouvir. Esse enriquecimento faz uma super diferença.

Isso é essencialmente diferente entre as coisas darem certo e não darem. Quem não está operando dentro da perspectiva de mandala, depois das decisões tomadas, sempre tem a sensação de que tinha alguma coisa que deveria ter consultado, porque o ambiente era mais rico, tinha outros elementos que a pessoa não chegou a notar e perceber. Então, a mandala tem mais inteligência do que o processo piramidal, funciona melhor. Mas, mesmo dentro do processo de mandala, há o treinamento da mente.”

O MUNDO INTEIRO PODE SER UMA OFERENDA DE LUCIDEZ

“Nós podemos fazer uma oferenda como o Tsog, como fizemos ontem aqui. Eu posso dizer que, em vez de fazer uma prática, posso fazer uma oferenda. A oferenda da lucidez: olhar para tudo em todas as direções reconhecendo isso. Muitas vezes, isso é usado dentro da expressão “nuvens infinitas de oferendas”. Nuvem vasta de oferendas. O mundo inteiro surge como uma oferenda de lucidez.

Isso é a oferenda do bodisatva, ele vai esquecendo todo esse aspecto mais figurativo. Ou seja, nós precisamos olhar o universo inteiro com lucidez. Se deixarmos algum pedaço do universo sem olhar, ali é um canto da ignorância.

Então, é melhor olhar tudo, não tem o que não olhar. Nós olhamos o aspecto grosseiro externo, o aspecto sutil externo; olhamos o aspecto grosseiro interno e o aspecto sutil interno. Não vamos deixar nada sem olhar. Olhar, aqui, significa reconhecer a inseparatividade do aspecto secreto com os aspectos sutil e grosseiro, seja do que for, interno e externo.”

“A História é sempre uma história da impermanência.”

Vídeo #18

“Rigpa é a manifestação espontânea da natureza de buda, espontaneamente presente, luminosa e lúcida.”

“Todos os seres têm a natureza de rigpa.

Vídeo #19

“A realidade não é um fio, é uma região em que a gente se movimenta.”

A PERFEIÇÃO DA GENEROSIDADE

“A perfeição da generosidade é assim: na medida em que obstáculos são superados em algum lugar, a própria pessoa, a inteligência que está manifestando, olha aquilo como se fosse um assunto inseparável dela mesma. Ela não olha aquilo como se fosse de um outro. O critério de qualidade é assim: não há um outro, não há um “eu ” e não há alguma coisa sendo passada. Não há uma dualidade. O outro não é visto de forma dual. Isso é a perfeição da generosidade.”

“A gente precisa reconhecer a visão mais ampla como uma riqueza. A gente não deveria ficar preso à visão de identidade e nem imaginar que o darma vai nos abalar enquanto identidade. O darma vai ampliar a nossa visão. A identidade é um ponto parcial e limitado de onde eu olho. A gente vai entender a superação da identidade não como uma superação de mim mesmo e como um sacrifício, em que eu me jogo num fogo para então virar outra coisa. Não é isso. Eu estou operando de forma estreita, então eu vou ampliar”.
“O sutra do Diamante trabalha o aspecto da superação da identidade. Esse é um dos obstáculos que a gente tem quando a gente segue o caminho da perfeição. O caminho da perfeição tem uma abordagem que, quase certamente, durante um bom tempo, estimula a visão desde uma identidade, então, ele pode reforçar a visão da identidade. Se a gente for entrar nos retiros com essa perspectiva, a gente vai ter problemas.”
“Por que as aparências são falsas? Não é que elas sejam falsas, elas são o que são, elas se tornam falsas quando eu as assumo como verdadeiras. Se eu as assumo como verdadeiras aquele aspecto verdadeiro é falso. Esse aspecto se torna sólido e por isso eu vou chamar de falso, porque eu tomo aquilo como base para construir outras coisas, então eu considero que aquilo é seguro. Então, a gente vai criticar: não, isso não é seguro, isso é falsamente seguro, isso não é, de fato. Então, essas são as aparências falsas”.
 
Lama Padma Samten ofereceu esses ensinamentos durante o Retiro de Verão, de 9 a 18 de fevereiro de 2018, no CEBB Caminho do Meio, em Viamão. A foto foi tirada durante o retiro.
Transcrição: Bruna Crespo
Revisão: Stela Santin

Compartilhe esse conteúdo para chegar a mais pessoas

Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on whatsapp
WhatsApp
Share on telegram
Telegram
Share on email
Email

Conteúdos relacionados

RECENTES

INFORMATIVO DO CEBB

Inscreva-se para receber por email nossa programação de práticas, palestras e retiros.

ENSINAMENTOS EM VÍDEO

ENSINAMENTOS TRANSCRITOS

AGENDA DO LAMA