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Budismo, meditação e cultura de paz | Lama Padma Samten

Por que praticar Metabavana?

Trecho do ensinamento oferecido por Lama Samten durante o Retiro de Inverno online de 2020, no dia 26 de julho.

“Praticando amor e compaixão, você ficará inundado de alegria e energia e saberá que este é o sentido da vida, que isto é felicidade e equilíbrio.”
—Lama Padma Samten

Metabavana é um tema super importante. “Bavana” é meditação, cultivo da mente, o posicionamento voluntário da mente, nós dirigimos a mente. “Meta” é Amor Universal. Então, nós posicionamos a mente em ligação com o Amor Universal e praticamos isso. Maravilhoso.

Por que praticar Metabavana?

Na medida em que nós vamos seguindo no caminho, os novos obstáculos vão surgir como ligações cármicas em várias direções. Essas ligações cármicas fazem com que coisas, pessoas, animais , seres e situações sejam olhadas como positivas, outras como negativas, outras nós nem vemos, pois são neutras. Essa é a visão de vedana. Nós estamos sempre filtrando tudo através de vedana, ou seja: gostar, não gostar e indiferença. Sendo que indiferença é uma atitude super impactante também. Por exemplo, nós poderíamos dizer que a destruição dos mares é potencializada pela indiferença: ainda que a gente saiba que isso está acontecendo, a gente não sabe nem o que dizer. Então, a indiferença é também o que impacta as pessoas, porque as pessoas podem estar muito mal, mas nós não fazemos nada, é assim. Nós não vemos, nós não olhamos. Essa indiferença por vezes é não ver e outras vezes é ainda mais profunda, porque nós não vemos, e não vemos que não vemos. É assim, é uma ausência. Essa incapacidade de ver é uma incapacidade ativa, ela produz resultados, ela produz muitos resultados, é super grave.
Metabavana altera esse processo. Por quê? Porque nós estamos olhando nas várias direções e aspirando a que os seres encontrem a felicidade e superem o sofrimento, encontrem as causas da felicidade e superem as causas do sofrimento. Nós estamos olhando isso. Está certo que essa descrição é uma descrição que vem como um processo mental, como um processo dual, como um processo cognitivo. O fato disso surgir como algo cognitivo não deveria nos impactar. Por quê? Porque surge de um modo cognitivo como uma transmissão da mente do Buda para a nossa mente. Agora nós tomamos isso e transformamos isso numa coisa viva. Esse é o processo. Então, nós temos essa prática, essa “bavana”, ou seja, é um tipo de meditação: eu tento manter a mente focada a partir de amor e compaixão e assim eu vou olhando os seres todos.

Metabavana altera a bolha

Então, isso pode transformar profundamente as nossas relações e, especialmente, pode transformar a bolha de realidade na qual nós estamos imersos. Porque a bolha de realidade na qual nós estamos imersos dentro da visão comum, que é a visão que nós usualmente estamos operando, é composta de seres e situações locais. Todos eles fixos em algum lugar, como se tivesse uma abóboda, como se tivesse literalmente uma bolha. Nós olhamos ao redor e qual é o conteúdo do mundo que estamos vendo? Aí começamos a descrever o conteúdo do mundo. Só que o conteúdo do mundo como nós descrevemos não resiste à Metabavana. Por quê? Porque nós olhamos para esse conteúdo e estamos cheios de coisas que gostamos e que não gostamos. De repente, nós começamos a olhar para as coisas com compaixão e amor e as coisas começam a mudar, porque aquele olhar que nós temos pelas coisas não é um olhar de compaixão e de amor. É um olhar de gostar ou não gostar e esse gostar ou não gostar está ligado a tendências cármicas que nós nem sabemos de onde é que vêm. Mas estão lá.
Nesse momento, nós estamos referenciados por um conjunto de estruturas cármicas que operam definindo o que nós gostamos e o que não gostamos. E essas estruturas de gostar e não gostar terminam sendo descritas como a nossa identidade, ou seja, os três venenos: a identidade; a avareza, ou seja, nos fixamos, e a raiva. Nós temos essa estrutura de defesa e ataque que é a raiva.
Esses três venenos potencializam a nossa ação incessante que é Upadana, o nono elo dos 12 elos da originação dependente. Mas como nós podemos nos contrapor a isso? Como podemos ultrapassar isso? Nós não vamos ultrapassar delimitando isso como inimigo ou lutando contra ou usando uma disciplina. Não vai funcionar. Então, o Buda rói isso, ele tira a estrutura disso através de Metabavana.

Metabavana é a essência da transformação

Então, Metabavana não é pouca coisa! Metabavana é a essência da transformação toda. Quando nós olhamos um por um dos elementos que surgem como grosseiros diante de nós e olhamos o conteúdo cármico correspondente com compaixão e com amor ele é alterado. Ele muda. Por quê? Porque a luminosidade da mente produz outra coisa e aquilo muda. Então, vamos mudando um a um, até que quando olharmos o conjunto, não estamos mais no samsara, estamos na Terra Pura correspondente. Esse é o ponto. Por exemplo: se nós vamos fazer uma meditação em silêncio dentro da bolha, é muito mais difícil do que fazer uma meditação em silêncio em Terra Pura. É muito mais difícil!
Assim, Metabavana é a base para a gente poder seguir adiante. Quando nós estamos meditando em silêncio, se nós estamos nas bolhas, nós somos invadidos por pensamentos correspondentes aos seis reinos da Roda da Vida. Se nós estamos em Terra Pura, nós somos invadidos pelas sabedorias correspondentes.
Portanto, é crucial trabalharmos com Metabavana e aprofundarmos nesse ponto. É como se a gente não tivesse como verdadeiramente avançar se não purificarmos as aparências a partir de Metabavana.

Purificação do ambiente externo e interno

Para finalizar essa parte, essa contextualização de Metabavana, eu queria tratar de dois aspectos. O primeiro aspecto de Metabavana seria essa purificação do ambiente externo e interno. Ainda que não haja uma diferença entre o ambiente interno e externo, equivocadamente, nós podemos sentir que há uma diferença entre o ambiente externo e interno, mas eles são totalmente inseparáveis. Mas se eu disser “a purificação do ambiente externo”, eu olho para as coisas e tudo muda. Se eu disser, “ambiente interno”, eu vejo as energias que circulam por dentro de mim dando sentido àquilo que eu vou chamar de externo. Porque existe a não dualidade, mas eu não percebendo isso pode parecer que faz sentido eu descrever que há um ambiente interno e um ambiente externo.
Então, há uma purificação daquilo que nós sentimos como ambiente interno e há uma purificação daquilo que nós sentimos como ambiente externo. E assim nós vamos praticar, seguir o caminho dentro de um ambiente mais limpo, mais fácil de ser trabalhado. Esse é um ponto essencial.

Metabavana e a saúde física e mental

Esse é um ponto que também se conecta diretamente com a questão da própria saúde física e mental da pessoa. Por exemplo, quando nós criamos uma purificação do ambiente interno, a pessoa, quando olha para os múltiplos conteúdos, que são conteúdos externos, ela não tem mais as perturbações e os fluxos de energia, fluxos glandulares e as contrações correspondentes à experiência que ela tinha antes, porque ela purificou, agora é diferente.
Então, vocês imaginem o problema da pessoa estar sempre convivendo dentro de casa, nos ambientes de trabalho, em outros ambientes onde ela estabelece relação com outros seres e ela tem um ambiente interno poluído. Isso produz uma série de desequilíbrios internos, repetitivos, um dia depois do outro, e eventualmente à noite a pessoa ainda sonha dentro daqueles ambientes. Então, é natural que haja um impacto sobre os órgãos físicos, é completamente natural.
Se a pessoa tiver essa purificação propiciada por Metabavana, essa purificação vai produzir um alívio dos males físicos que a pessoa não entende bem de onde vêm e que estão surgindo, mas aquilo está lá e aquilo produz necessariamente esse reflexo sobre a saúde física. Mas essa saúde não é uma saúde apenas física, ela é uma saúde também no nível mental. A pessoa pode, com o tempo, descobrir que ela se livrou de uma porção de perturbações que ela tinha e que agora, repentinamente, ela descobre que não tem mais. Porque ela se afligia, ela passava mal, ela tinha tremores, insônia e não sei mais quantas coisas, mas, de repente, ela não tem mais.
Até a postura do corpo se altera quando isso é arrumado. Por quê? Porque a energia circula de um outro modo. Então, quando a pessoa não tem isso arrumado, o corpo dela se entorta um pouco. Se a pessoa tiver aquilo por muito tempo, os ossos deformam um pouco, as articulações deformam, ela vai ter dores de vários tipos, vai ter problemas de vários tipos. Por quê? Porque é um reflexo natural num nível grosseiro dos aspectos sutis. Então, pessoal, Metabavana é realmente muito importante.
Vocês não pensem que Metabavana é uma coisa introdutória, que não tem importância, que é só para os iniciantes, e nós que afinal não somos mais iniciantes, que somos experientes não vamos fazer Metabavana.

Aspecto grosseiro, sutil e secreto da prática

O ponto é que Metabavana altera o mundo onde nós estamos. É um exercício direto. Esse é outro aspecto que eu queria trazer. Quando nós queremos aprofundar uma prática, seja ela qual for, nós contemplamos o aspecto grosseiro, sutil e secreto. Nós podemos transformar a Metabavana na prática final da iluminação desde que olhemos o aspecto grosseiro, sutil e secreto.
Então, por exemplo, o que seria o aspecto grosseiro enquanto nós praticamos Metabavana? Nós vemos que o conteúdo que passamos a ver nas pessoas, nos prédios, nas situações muda. É o conteúdo grosseiro, ele muda. A pessoa poderia ter um problema com o seu chefe, e depois de Metabavana a pessoa olha o chefe com compaixão. Quando as aparências grosseiras começam a mudar por Metabavana, nós nos damos conta que essa mudança ocorreu porque houve uma mudança sutil interna. A mudança externa e a mudança interna vêm juntas. Nós nos damos conta disso. Esse é o segundo aspecto, o aspecto sutil.
Quando nós localizamos esse aspecto sutil, fica super claro, fica visível que o aspecto sutil é uma manifestação do aspecto secreto, porque o aspecto secreto é tal que a minha mente não é configurada por uma tendência de um certo tipo. Ela é livre. Por isso que eu consigo mudar essas tendências. Então, eu descubro que o carma não é uma inevitabilidade. Tem uma estrutura cármica, ela está ali, e eu vou chamar de carma porque eu obedeço a ela. Se eu entender o aspecto secreto, entender essa liberdade e fizer esse exercício através de Metabavana, eu vejo que eu tenho uma liberdade natural, eu não preciso fazer aquilo. Aí a energia surge de um outro jeito, e isso é a liberdade, a energia num nível secreto.
Se a pessoa for aprofundar isso, ela pode estender a prática de Metabavana em todas as direções e ela vai terminar encontrando a Mandala do Buda Sakyamuni, olhando assim com compaixão para todos os seres, para todos os lados. Ela vê a mente livre dos seres e ela repousa na não dualidade, a partir da qual ela pode gerar muitos estados mentais.

Como fazer a prática

Se quisermos realmente aproveitar os conteúdos que surgem em nossa prática do silêncio, podemos observar o que ocupa nossa mente enquanto praticamos meditação. Vamos nos dar conta que o que nos invade e prende nossa atenção durante as sessões de meditação são aspectos de nossas vidas que não estão bem resolvidos, relações em que localizamos algum nível de conflito e tensão. Porque conseguimos parar por alguns instantes em silêncio, localizamos essas regiões conflituosas, elas serão, a partir de agora, o eixo da meditação de Metabavana.
Esta prática é extremamente poderosa e capaz de alterar nossos padrões de relação, não apenas conosco mesmo, mas também com os outros seres, com a sociedade organizada e com a biosfera. Metabavana permite reconhecermos a vacuidade e a plasticidade das relações, pois vemos que é perfeitamente possível construir as relações a partir da compaixão. Você pode fazer uma lista de pessoas, tanto vivas como mortas, que tenham um nível de impacto em sua vida, positiva ou negativamente. É importante fazer a prática para si mesmo também, pois estaremos mudando não só nossa visão sobre os outros como sobre nós mesmos.
Aqui as frases da prática de Metabavana:
1. Que (nome da pessoa)  seja verdadeiramente feliz;
2. Que _______ encontre as causas da felicidade;
3. Que _______ se afaste do sofrimento;
4. Que _______ se afaste das causas do sofrimento;
5. Que _______ supere suas estruturas cármicas (seus automatismos);
6. Que _______ possa verdadeiramente beneficiar os seres;
7. Que _______ tenha lucidez instantânea;
8. Que _______ encontre nisso sua energia e felicidade!
Transcrito por Daniel Lemos
Revisado e editado por Stela Santin
 

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