Áudio do ensinamento de Lama Padma Samten no 2º dia do Retiro de Verão 2016, no CEBB Caminho do Meio (Viamão, RS)
Transcrição de um trecho do ensinamento
“Nós não somos muito confiáveis nem pra nós mesmos. A gente pode se definir pra si mesmos de um determinado jeito e daqui a pouco estamos falhando pra nós mesmos em relação ao que a gente se definiu e se propôs. Eu acho comovente que a gente se considere existindo de um certo jeito, depois a gente muda, e parece que é o mesmo. “Não, eu agora sou uma outra coisa…” Mas o que seria esse “eu agora” se eu mudei tudo?
Aí vem essa questão. Quando a gente aprofunda essa noção do “eu”, a pessoa vai encontrando a mente, e quando ela aprofunda essa questão da mente ela também não encontra alguma coisa mais sólida, mas ela vai encontrando aspectos sutis e aspectos secretos que aparecem. E esses aspectos sutis e secretos são inseparáveis das próprias aparências, essa coisa toda começa a se conectar.
Mas pra olhar isso, ainda que isso não seja uma coisa complexa, basta olhar, a gente vai precisar acalmar a mente. Não sei se vocês já perceberam, mas quando a gente então pára, se acalma, a mente continua lá, agitada. Ela é quase inútil para nós. Porque ela é uma fonte de transmigração, de flutuações, incessante. Enquanto a gente não tiver a capacidade de olhar para alguma coisa calmo, a mente não vai adiantar muito pra nós.
Então por exemplo, a gente pode ouvir os ensinamentos, pode acessar os ensinamentos, ler sobre os ensinamentos, mas existe uma barreira, um obstáculo diante de nós, que é o fato de que a nossa mente não consegue seguir aquilo. É como a pessoa que recebe uma instrução sobre como baixar um arquivo ou como tricotar. Se a pessoa já não tem um pouco de experiência naquilo, aquilo tranca total. Outro, que já conhece, escuta aquilo e então aquilo faz sentido. Por que que aquilo tranca total?
Ou um professor está escrevendo no quadro uma lição…se o professor entendeu aquilo, porque que nós não podemos seguir a mente como ele está seguindo e aprender aquilo também? A gente pode. E por que que a gente não aprende? A gente não aprende aquilo porque no primeiro movimento que o professor faz, a gente já pensa no almoço, no segundo a gente está pensando que horas a gente vai embora, no terceiro a gente pensa que a cadeira é meio dura. Aí pronto, já perdemos dez raciocínios do professor. Aí já ficamos fora: “Isso é muito complexo, poderia repetir isso?” Aí ele vai lá e repete, mas quando ele está no segundo pensamento, nós já esvoaçamos de novo.
Então não é que a gente tenha uma deficiência, tem uma aceleração. Tem um processo indisciplinado, caótico, selvagem de operação, e nós nos fundimos com esse aspecto. Tem uma vastidão de pessoas que pensa que elas são tudo aquilo que brotar vivo dentro delas. Que isso é uma expressão genuína delas mesmas. Então aquilo é um problema. Aí tem uma outra categoria de pessoas, menos numerosa, que pensa que elas não são o aspecto caótico da sua mente, mas quando elas tentam enfrentar esse aspecto caótico, também não conseguem.
E aí tem uma categoria bem menor de seres que enfrentam o aspecto caótico da mente e levam alguma vantagem. Então esse é um ponto interessante, a gente precisa trazer essa mente como aliada, nós vamos precisar pacificar isso. Aí vem shamatha, meditação, vem zazen, nós vamos precisar fazer isso. Vem um tipo de funcionamento no mundo pra evitar essa situação caótica. E quando a mente se torna mais pacífica nós podemos focar coisa por coisa, aprofundar aquilo e as instruções começam a fazer sentido.”
—Lama Padma Samten
Download do áudio
Para baixar o MP3, clique abaixo com o botão direito em “Download” e selecione “Salvar destino/link como…”.
[powerpress]
Principais temas
Linguagem (a linguagem do budismo, ciência, culturas); identidades e o caminho; meditação; caminho de instrução piedosa; caminho das bençãos de Sambhogakaya; caminho da apresentação dos aspecto secreto; caminho do aspecto grosseiro; caminho do método; Losar, ano de Guru Rinpoche; detalhamento das instruções piedosas, 14 conselhos dos Lama Padma Santem.
