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Controle de qualidade no caminho

No dia 11 de abril de 2021, durante o retiro “As Terras Puras e a Prática na Vida Cotidiana”, Lama Samten comentou os “14 conselhos” e logo depois ofereceu um controle de qualidade em 8 pontos.

O controle de qualidade tem oito pontos. Sem isso, é como se a gente estivesse com o caminho bloqueado.
Bodicita

1. Bodicita e energia autônoma

Se não tiver bodicita em algum nível, na forma de compaixão e energia autônoma, é essencialmente impossível avançar, porque se nós estamos olhando as circunstâncias a partir de gostar ou não gostar – se eu gosto, a energia aparece e se eu não gosto, não aparece – o movimento é caótico. É um movimento que, eventualmente, os jovens, em uma certa etapa da vida, manifestam, especialmente quando os pais cuidam, protegem e ajudam. Eles ainda não têm uma energia autônoma, ficam olhando se gostam ou não. Quando os pais começam a cuidar das crianças estão sempre buscando colocar a criança em uma condição confortável. Se os pais têm êxito nesse comportamento, eles vão levando. Então, o outro aprende a avaliar se aquilo é confortável ou não, e isso se torna um referencial, portanto a energia da pessoa brota quando aquilo é confortável; quando não é confortável, ela recua. Isso está muito longe do que o Buda chama de energia autônoma.
A energia autônoma tem origem na dimensão livre da mente, que produz a energia, que propele o corpo. É algo diferente. Essa energia autônoma, o Buda vai enfatizar nos textos pali. No caminho Mahayana, nós vamos enfatizar especialmente a energia que brota por compaixão. A energia autônoma é naturalmente a linguagem do Dzogchen e do Zen também.
Se a gente não tiver essa energia e não tiver bodicita, como iremos percorrer o caminho, se não tem combustível? Não tem como andar.

2. Devoção

Por outro lado, se a gente tiver essa energia mas não tiver essa certeza de faixa 4, essa clareza de avançar no desconhecido, como vamos andar? Não tem chance. Precisaríamos ter esse nível que é devoção, confiança, certeza, uma guru yoga secreta, sutil ou grosseira. Se tiver isso a energia aparece e se move, se não tiver, em que direção a pessoa vai andar?

3. Energia primordial

Se a pessoa está no caminho, mas não conseguiu ainda conectar a energia com a fonte primordial que é a mãe Darmata, ela irá oscilar. Ela pode, por exemplo, se aproximar da religião, das práticas, dos estudos, mas se a energia não conectar com a fonte primordial, a pessoa não irá seguir no caminho mais do que um tanto. O que vai realmente levar até o final do caminho é a conexão da energia com a mãe Darmata.

4. Pacificação da sabedoria relativa causal

Outro aspecto é a pacificação da sabedoria relativa causal. A pessoa precisaria juntar a sabedoria relativa causal com a sabedoria primordial. Se ela usar só a sabedoria relativa causal comum em meio ao mundo ela vai ter muitos problemas, não tem como avançar, vai precisar desenvolver a sabedoria que brota de um lugar livre de construções, que é essencialmente o Prajnaparamita. Se não tiver isso, ela segue pelas sabedorias relativas causais, que são as sabedorias de bolhas específicas, e fica presa inevitavelmente nas bolhas dessa sabedoria relativa causal. Se ela tiver a sabedoria primordial, mas não conseguir iluminar a sabedoria relativa causal, ela terá a clareza, mas não terá o meio hábil de se mover em meio ao mundo condicionado com lucidez. Ela vai olhar o mundo condicionado como um obstáculo e vai tender a se isolar, não terá como andar dentro do mundo das aparências em que os seres se movem, não terá meios hábeis. Assim, é necessário saber relacionar a sabedoria relativa causal com a sabedoria primordial.

5. Ultrapassar a linguagem da identidade

A pessoa precisa liberar a linguagem da identidade, conseguir ultrapassar e falar sobre as coisas além da indexação às identidades. Se não conseguir fazer isso, vai estar presa às identidades e não vai conseguir passar de um ponto.

6. Cinco Sabedorias

A pessoa precisaria também desenvolver a habilidade das 5 sabedorias. Quando o Buda primordial olha para o samsara como ele se estabelece, ele vai olhar com os olhos das 5 sabedorias, que dão origem às 5 mandalas. Esse aspecto das 5 sabedorias se torna a mente do próprio Buda, como o Buda olha. Se a gente não gerar esse aspecto das 5 sabedorias, como vamos fazer a sabedoria surgir?

7. Aparências como caminho

Também precisaríamos olhar as aparências e obstruções como práticas especiais e não como obstruções ou obstáculos. Quando olhamos as aparências, elas serão o convite para a prática especial de iluminá-las. Quando surgem obstruções e impossibilidades claras, nós sorrimos: que maravilha! Isso está muito claro, aqui é um lugar que eu preciso ultrapassar, eis alguma coisa muito clara, essa obstrução parece completamente densa e real, eis um tema de prática maravilhoso! Vocês sentam na frente da obstrução, e ela: plim plim plim plim (Lama faz um gesto como se a aparência se dissolvesse na nossa frente), e vocês atravessam. Vocês não vão com martelo, nem com dinamite.

8. Ensinamentos

Sem a presença dos ensinamentos que levem até o final do caminho é muito difícil adivinhar os trechos, leva muito tempo. É melhor que a gente tenha a presença dos ensinamentos que levem até o final do caminho como os ensinamentos de Düdjom Lingpa.
Transcrição: Clarissa Gleich
Edição e revisão: Stela Santin

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