Trecho do ensinamento oferecido por Lama Padma Samten na primeira sessão do retiro “Além das identidades”, para mais de 300 pessoas em São Paulo, nos dias 18 e 19 de junho.
Se vocês olharem um pouco distanciados, cada pensamento constrói um tipo de realidade. Nós estamos nascendo e morrendo em cada pensamento. Nós surgimos junto com as realidades que aparecem em nosso pensamento. Isso não é o ponto mais importante. O ponto mais importante é que, por incrível que pareça, mesmo que a gente surja de um certo jeito, nós não somos aquilo — o que há de permanente é que nós continuamos com uma capacidade de fazer surgir outro pensamento e outro pensamento… Então, como os pensamentos vem e vão, nós não podemos dizer que nós somos os pensamentos. Eles vem e vão.
Nós também não somos o conteúdo, logo o conteúdo não importa muito. Quando a gente se importa pelo conteúdo, nós já estamos criando uma bolha de realidade, andando por dentro de uma bolha. Mas o fato é que a bolha cessa e nós retornamos para uma região onde novos pensamentos podem surgir. Nós voltamos para uma região que não tem um compromisso com os pensamentos. A gente pode ver isso em qualquer criança. A gente diz: “Agora você faça seu dever de casa!” Aí a mente deles vai para todo lado. A gente diz: “Uau, que incrível, a mente dessa criança é a mente búdica, não tem nenhum compromisso com realidades artificiais”. Os educadores tentam manter a mente deles segundo roteiros e a mente deles é livre.
Então, a própria dispersão da mente significa essa natural liberdade diante dos aspectos terra construídos. Se alguém perguntar “Sua mente é muito dispersa?”, você diga: “Não, minha mente tem uma natural liberdade frente a aspectos terra artificialmente construídos! Isso é o que me mantém com sanidade!” As pessoas que se estruturam dentro de aspectos terra construídos vão parar onde? Esse é o segredo apontado pelo Buda. Nós não somos as identidades, nós não somos os seres que respondem dentro de aspectos terra artificialmente construídos. Nós somos o adversário. É óbvio que nós temos uma natureza livre além dos aspectos terra artificialmente construídos. É óbvio! Senão a gente não tinha nem como fazer dispersão mental. Qualquer pessoa com a sanidade de ter a mente esvoaçando assim tem a manifestação direta dessa liberdade além das artificialidades.
E nós ficamos forçando as pobres das crianças a ter coerência… Damos os referenciais e dizemos “Meu filho, você lembre disso.” Por que ele tem dificuldade nisso? Ele tem dificuldade porque a mente dele é livre! Os seres têm a mente livre. Justamente porque eles tem a mentes livre eles tem a capacidade de construir outras realidades. E assim, como Kahlil Gilbran diz, a mente dos pais não vai alcançar o mundo dos filhos. Eles são como flechas, eles podem ajudar a arremessar os filhos, mas onde os filhos vão chegar os pais não conseguem entender.”