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Budismo, meditação e cultura de paz | Lama Padma Samten

As cinco sabedorias nas relações de casal e de família

Trecho da palestra de Lama Padma Samten em Natal/RN (05/06/2015)
Se nós tivermos fixados em nossa identidade, teremos problemas. Isso são os 12 elos da originação dependente. Precisamos entender que, para as relações darem certo, precisamos das cinco sabedorias. Todos deviam pendurar as bandeirinhas com as cinco cores nas suas casas.
Por que as relações envelhecem? Porque a gente perde a capacidade de olhar pro outro e entender o outro no mundo dele. Vocês guardem isso. Isso é uma capacidade búdica. A capacidade de olhar para o outro e entendê-lo no mundo dele.
O namoro no samsara não tem chance, porque o encontro entre as pessoas no samsara (independente de ser namoro ou não) é problemático: as pessoas são recursos, do tipo recursos humanos. No samsara, as montanhas são recursos, o vento é recurso, o mar é recurso, tudo é recurso, porque nós estamos fixados em coisas e nós queremos manobrar e olhamos em volta e é tudo recurso. A gente não vê as próprias coisas. Por exemplo, a gente olha pro rio e vemos água correndo nos canos, não vemos o rio.
Acho interessante que nós, no Brasil, temos o ministério da pesca, não temos o ministério do peixe. É mais ou menos assim: nós não temos o ministério do gado, temos o ministério da picanha. Nós estamos vendo o peixe morto. Não nos interessamos pelos animais, pela saúde, pelo equilíbrio deles. Já estamos pensando neles encaixotados e resfriados. Então, pode ser que a gente olhe os namorados e namoradas mais ou menos assim: encaixotados e resfriados, dentro de um propósito nosso. Isso é um super problema. Isso vem de desejo e apego. Isso é a própria originação dependente. Trata-se do sétimo e o oitavo elos.

Sabedoria do espelho | Cor azul | Buda Akshobya

Então, é muito incomum e maravilhoso se vocês conseguem olhar para o outro no mundo dele. Melhor pensar assim: “Deixa eu ver o que ele está fazendo? O que seria bom pra ele?”
Se o outro está fazendo coisas erradas, brota compaixão. Mesmo que vocês estejam vendo coisas erradas no outro, olhem com amor, ou seja, vejam qualidades. Isso é super importante.
Olhem com o coração, vejam qualidades no outro. Isso vale, por exemplo, para os filhos, para a mãe, vale para todos os seres. Vocês experimentem olhar a sogra e o sofro para ver qualidades. Se vocês conseguirem, vocês estão avançando! (risos) Todos os seres têm qualidades, as sogras e sogros com certeza.
Vejam qualidades nas pessoas. Isso é amor. Se vocês virem qualidades nos outros, é perfeitamente natural desenvolver a relação a partir dessas qualidades e não a partir dos obstáculos do outro. Vocês não se prendam aos obstáculos, pois eles também são impermanentes. Se vocês estimularem as qualidades, os obstáculos vão diminuindo, eles não têm nem muita chance. Vocês ocupem a relação com as coisas que têm qualidade, as coisas que não têm qualidade não têm muito espaço pra acontecer.
Para entender as qualidades do outro, vocês precisam chegar ao outro. A nossa mente tem essa capacidade, que é uma capacidade búdica. Ela não está presa à própria identidade. Ela é viva, ela entende os outros. Se vocês duvidarem disso, vejam: minimamente a gente sabe cuidar das plantas, dos cachorros, dos gatos.
Por exemplo, as jovens mamães. Uma adolescente engravidou e nasce o bebê. Ela vai ter que entender rápido o que está acontecendo no mundo do bebê. Pode ser que até então ela só pensou em si mesma. Mas se ela não conseguir entender porque aquele bebê está roxo e berrando, ela não vai ter chance nenhuma.
Então, por exemplo, quando nasce a criança, melhor entender que agora tem um mestre dentro de casa. Se a pessoa pensar: eu tenho a minha vida e agora eu levo o bebê pra cá e pra lá, dentro da lógica da minha vida, não vai funcionar. Nós vamos terminar podendo fazer o que funciona para a criança. Se não funcionar para a criança, não dá pra fazer. Aí nós vamos nos movendo. A gente vai precisar se ajustar a isso.
Então, é muito importante a gente entender o outro. Quanto mais rápido a gente entender o outro, melhor. Também os médicos e terapeutas precisam entender o outro. Todo mundo precisa entender o outro: os advogados tem que entender o outro. Se vocês têm uma loja, por exemplo, e tem alguém entrando na loja, vocês precisam olhar a pessoa e entender o que ela precisa. Se vocês tiverem ainda uma apreciação amorosa, a pessoa entra e vocês olham as qualidades dela, talvez vocês consigam sugerir alguma coisa pra ela que ela não viu.
Então, todo mundo precisa alguém amoroso que vê as nossas qualidades. Se vocês têm essa capacidade de ver as qualidades do outro, a relação se estreita. Esse é um ponto interessante, porque ele não precisa nem se restringir à relação de casal, é uma coisa mais ampla. E também é algo que não precisa cessar com o final da relação. Se a relação termina, vocês guardem a capacidade de olhar os obstáculos com compaixão e olhar as qualidades positivas com apreciação e com vontade de estimular aquelas qualidades positivas.
Vocês lembrem, por exemplo, que as relações de casal são muito importantes, porém, é natural que elas sejam transitórias. No entanto, a relação com a ex-esposa ou ex-marido é para sempre. Eu não quero assustar ninguém, mas é assim. Precisamos aprender isso.
Essa capacidade de entender o outro no mundo dele é a sabedoria do espelho, cor azul, Buda Akshobya.
Como é que a gente sabe que é a sabedoria do espelho? Porque o outro está criando uma bolha, uma visão de mundo dele, aquilo é o mundo dele. Vocês não critiquem o mundo dele, porque todo mundo tem a sua própria visão de mundo, é a partir da sua visão de mundo que a pessoa se move, seja aquilo um processo consciente ou não. Pra vocês entenderem cachorros e gatos é a mesma coisa, tem que entender a visão de mundo deles. Aí a relação começa a funcionar. Se vocês dirigem pessoas num grupo, é essencial essa habilidade. Vocês tem que entender a mente de cada um. E nós podemos entender, pois a nossa mente não é pessoal, a nossa mente é ampla. Nessa prática, nós já estamos fazendo o trabalho de ampliar a mente.
O Buda dizia que ele entendia não só os seres humanos, mas os seres das florestas. Ele entendia, dentro de uma floresta, porque certas árvores eram de um tipo e outras de outro tipo, porque umas cresciam para o céu e outras tramavam para o chão. Ele entendia isso tudo.

Sabedoria da Igualdade | Cor amarela | Buda Ratnasambava

Aí tem a segunda sabedoria, a sabedoria da cor amarela, que é riqueza. Nós nos enriquecemos quando nós somos capazes de olhar para os outros dentro da sabedoria da igualdade. Todos os seres se movem desse modo. Aquilo que acontece para o outro importa para nós. Numa relação de casal e de família, esse é um ponto crucial.
Quando nós olhamos para o outro, nós somos capazes de nos alegrar com as coisas boas que acontecem com o outro, isso vai garantir a relação. Se vocês não se alegram com as coisas boas que acontecem pro outro, a relação de vocês está afetada, está abalada.
O aspecto extraordinário de uma relação é que nas relações de casal nós nos tornamos maiores do que nós éramos. A gente se alegra com o outro. A gente é capaz de viver a nossa vida e de viver a vida do outro também. Isso é muito maravilhoso.
Como nós estamos autocentrados, quando a gente se encontra, a nossa vida se amplia. Então isso é uma coisa maravilhosa. Provavelmente é uma das coisas que mais atrai a pessoa numa relação. É provavelmente o que a pessoa mais perde quando a relação se rompe. A pessoa fica com uma vida estreita, ela não tem ninguém que ela realmente compartilhe e permita ampliar a visão. Então, as relações têm esse poder.
Isso vem da sabedoria da igualdade. É muito maravilhoso que a gente seja capaz de olhar para os outros e se associar e produzir ações nossas para benefício do outro. Quando aquilo eclode na vida do outro como uma coisa boa a gente se alegra. É o que a gente faz com os filhos também. Isso é super maravilhoso, mas podemos fazer em todas as direções, com outras crianças, ajudando escolas, a gente pode ser amigo das pessoas em várias direções, ajudar as pessoas do nosso próprio trabalho, podemos olhar com esse olhar. Ver as qualidades, ver os obstáculos, se alegrar e ter uma visão de apoio daquilo que é positivo e bom pro outro. Isso garante a relação.
Se vocês estão namorando e o namoro está funcionando, vocês vejam: tem sabedodria do espelho e da igualdade. Se as crises estão surgindo, é porque a sabedoria do espelho diminuiu e a sabedoria da igualdade diminuiu.

Sabedoria Discriminativa | Cor vermelha | Buda Amitaba

Há também a sabedoria discriminativa, que é super importante. É um pouco doloroso entender que a gente nasce, vive e morre. As pessoas queridas também nascem, vivem e morrem. As crianças nascem, vivem e morrem. Não há culpados nisso, as coisas são assim: têm início, meio e fim.
É importante entendermos que nós não estamos aqui simplesmente como uma manada de gado, andando por prados floridos, pastagens perfumadas, sombras e aguadas em direção ao abatedouro. O Buda usa essa imagem. Nós não estamos andando assim em direção à morte, vagueando sem sentido. Então, é importante entender que a vida tem um sentido. Isso é a terceira sabedoria, de cor vermelha.
A base da sabedoria discriminativa é a nossa capacidade justamente de ficar em silêncio e ver a nossa mente que está além das próprias bolhas de realidade, além das coisas favoráveis e desfavoráveis, além da roda da vida. A partir desse silêncio, acessamos a sabedoria que está além da roda da vida. Então, isso é a sabedoria discriminativa. É muito importante para a relação a gente olhar de forma profunda as coisas.

Sabedoria da Causalidade | Cor verde | Buda Amoghasiddhi

Existe também a quarta sabedoria, a sabedoria da causalidade. Ela é assim: não faça coisas que vão causar problemas e faça coisas que vão melhorar tudo. A gente precisa saber o que favorece e o que atrapalha.
Dentro disso, tem quatro ações. São quatro ações super importantes nas relações. A primeira ação é ação de poder: não se perturbar com a perturbação do outro. É natural que as pessoas se perturbem, mas vocês não se perturbam. Quando o outro se perturbar, vocês não se perturbam.
Uma pessoa perturbada na frente de vocês não consegue transmitir a perturbação pra vocês: isso é poder. Não se perturbar com a perturbação do outro nem quando o outro queira perturbar. Isso é super importante.
Segundo ponto: a pessoa pacifica e acalma o outro. Terceiro ponto: ela promove o que é positivo dentro do outro. Quarto ponto: ela desmonta a fonte da negatividade. Isso é ação irada. Ela bate, ela quebra a base da infelicidade que está produzindo os problemas.
Então a gente precisa aprender essas quatro ações:
1. Manter-se sem perturbação;
2. Pacificar;
3. Criar e promover as coisas positivas na relação com o outro;
4. Desmontar as negatividades que estejam estruturadas.
A gente precisa fazer isso, praticar essas quatro ações por todas as direções. Isso completa a quarta sabedoria. Aí vem a quinta.

Sabedoria de Darmata | Cor branca | Buda Vairochana

A quinta sabedoria é assim: nós não somos esse corpo humano, nós temos uma natureza que está além de vida e morte e está além de espaço e tempo. Se a gente não descobrir isso durante essa vida, é como se a gente estivesse desperdiçando a nossa própria vida. Então, é melhor que a gente seja companheiro dentro dessa viagem ampla de clareza das coisas. Se a gente simplesmente ficar olhando um para o outro durante a vida, essa é uma forma de perder tempo. Melhor que a gente se junte para olhar e se apoiar num trajeto maior e verdadeiro que tenha significado mesmo.
Vejam, nos doze elos da originação dependente, a pessoa está autocentrada o tempo todo. Com as cinco sabedorias a pessoa abriu, começou a olhar e ver ao redor e então a vida dela se abre. Se nós seguirmos pelos 12 elos, autocentrados, escolhendo as coisas e forçando, olhando os outros como se fossem recurso para aquilo que a gente gosta ou não gosta, aquilo não dura. Vocês podem ter certeza, o autocentramento é a pior coisa numa relação.
Se vocês puderem ampliar a mente, isso será mais favorável. O que significa ampliar a mente? Cinco sabedorias! Entender o outro no mundo dele, se alegrar com as coisas boas do outro, não se perturbar com a flutuação do outro, pacificar, promover as coisas positivas, ser hábil em desarticular aquilo que não é bom.
Especialmente, vocês precisam ter um sentido de caminho espiritual. As relações precisam ter essa dimensão. Precisamos entender que tem uma razão para a gente viver que é expandir a lucidez. Se vocês perderem isso, a própria relação vai se esgotando. Se vocês manterem o sentido espiritual, a relação se mantém sempre viva. É super importante ninguém perder essa dimensão mais ampla, e, se um perde, que o outro não perca o sentido espiritual, o sentido de que a nossa vida não é sem propósito, não é uma sucessão de coisas aleatórias.

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