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"As pessoas precisam de amigos verdadeiros": Lama Padma Samten sobre como andar em meio ao mundo

Transcrição dos minutos finais do ensinamento de Lama Padma Samten no 8º dia do Retiro de Verão 2016, no CEBB Caminho do Meio (Viamão, RS)
“O mundo não é fixo, o mundo passa rápido, o tempo passa rápido. É uma coisa assustadora. As bolhas, as identidades, as visões de mundo vão todas mudando muito rápido. Mas nós acreditamos que as coisas são fixas. Nós nos definimos fixos. Nós dizemos “eu sou isso” e nós congelamos as nossas identidades.
Quando nós estamos buscando trazer benefícios aos seres, se não conseguimos mexer diretamente neles, não se preocupem: Maharaja mexe — mexe não só neles, mas no mundo inteiro, coloca tudo de ponta-cabeça. Pra nós, é crucial ter paciência, ou seja, nós rezamos metabhavana, olhamos de uma forma positiva. As pessoas precisam de amigos verdadeiros. Vocês não se preocupem. Por quê? Porque tudo se desorganiza mas nós seguimos como amigos verdadeiros. Mais dia, menos dia, nós podemos trazer mais benefícios, nos reencontrando em âmbitos melhores.
Então, só não causar mal é uma grande coisa. Criar um ambiente sutil positivo é uma grande coisa. Porque mais dia, menos dia, no movimento natural de todas coisas (que é muito rápido), as condições objetivas e grosseiras terminam favorecendo as ligações. Não estou dizendo isso apenas para inimigos, mas para pessoas que talvez tenham vivido próximas de nós e que aspiramos reencontrar e estar próximo.
Também é muito importante entender que como as pessoas se movem carmicamente, é quase impossível que elas sigam juntas — desde que o movimento seja cármico. Se vocês pegarem duas boias e botarem no mar, juntas (vocês podem até colá-las, colem pra ver), aquilo sobe, desce, sobe, desce e dali a pouco a cola desgruda: elas estão juntas, mas a onda passa primeiro em uma, depois em outra, e aí vem o vento e aquilo começa assim… Dali a pouco uma está em um oceano e a outra está em outro oceano! É assim. É muito comovente.
Mas esse é o aspecto grosseiro. No aspecto sutil, metabhavana alcança as pessoas. No aspecto secreto, nós não estamos nem separados. Nós temos a natureza primordial que nos une. Tem esse milagre, esse aspecto extraordinário, misterioso. Nós também não somos nem o bodisatva, nem o corpo, nem a identidade, nem as bolhas, nem as mandalas… Nós somos uma natureza misteriosa, inseparável.
Então a gente guarda esse aspecto secreto, utiliza da melhor forma o aspecto sutil e no aspecto sutil a gente segue junto — junto com os que já morreram, junto com os que estão longe, mas nós estamos juntos. E no aspecto grosseiro a gente vive da forma mais digna que for possível. Mas nós não temos propriamente um controle sobre o movimento das coisas grosseiras. O movimento que a gente pode ter, o controle que a gente pode ter é praticar compaixão, amor, alegria, equanimidade, generosidade, moralidade, paz, energia constante, concentração e sabedoria, a partir da energia autosurgida, natural.
Esse é o segredo dos bodisatvas. Eles manifestam bodicita. Mas eles não manifestam bodicita sustentados pelos resultados. Não, os resultados eles nem olham. Eles tem essa fonte de energia que às vezes é comparada com o sol, uma fonte generosa. Mas o sol não fica controlando o que as pessoas fazem com a luz. Cada planta faz alguma coisa e nós fazemos alguma coisa com as plantas. No fim, tudo isso se move a partir do sol. Então, do sol dos bodisatvas saem emanações positivas, constantemente. Essas emanações brotam da natureza primordial, o aspecto secreto. Se nós pudermos viver da forma mais direta, da forma mais próxima desse aspecto secreto, melhor. Dali nós geramos as qualidades positivas. Das qualidades positivas, nós emanamos nossas ações em meio ao mundo flutuante, com bolhas que se superpõem em muitas diferentes visões e se movem praticamente sem uma direção definida. Mas no aspecto sutil nós temos uma direção. E no aspecto secreto nós temos um refúgio, uma segurança. Isso é sabedoria discriminativa. Nós nos movimentamos no meio disso, guardando energia.
Se vocês quiserem escapar do raciocínio, escapem. Apenas mantenham a energia. Sustentem a energia desde uma base não condicionada. Irradiem isso de uma forma benigna em todas as direções. A vida de vocês está resolvida. Vocês não precisam nem raciocinar nada, nem saber coisa alguma. Vocês só irradiem essa energia nas várias direções. Vocês serão protegidos. Vocês serão super protegidos. Todas as pessoas vão proteger você desde que você tenha essa disposição ampla de trazer benefícios e manifestar isso. Se vocês ficarem sentados em algum lugar, simplesmente irradiando, vocês serão cuidados, as pessoas vão trocar a roupa de vocês, vão dar comida para vocês. As coisas vão andar, de qualquer jeito.
Como andar nesse mundo cheio de significados? Como ter um referencial dentro de um mundo onde as frustrações são inevitáveis, sem que a gente flutue dentro disso? Como fazer isso?
Nós estamos super protegidos, pessoal. Esse mundo é protegido. Os budas adotaram esse mundo. Se vocês simplesmente seguirem com compaixão, dá certo. Se vocês guardarem lucidez e se moverem com compaixão, vai funcionar.
Se vocês não souberem dizer nenhuma palavra de prajna, de vacuidade, isso não é problema nenhum. Vocês só precisam manifestar a energia autônoma, livre, em benefício dos seres. Olhar com o olho compassivo. Assim está resolvido.
Essa complexidade toda (que estamos aqui elaborando e olhando) vem pelo fato de que nós temos uma conexão com coisas complicadas. Fazer o quê? Nós temos dúvidas complicadas, então dúvidas complicadas produzem respostas complicadas. Mas se vocês olharem as respostas complicadas, elas convergem para onde? Elas convergem para a natureza livre da mente, que não tem nenhuma complicação. E nós podemos também acessar isso por meio da energia, que não é um processo discursivo ou cognitivo.”

Vídeo do ensinamento


Veja todos os vídeos do Retiro de Verão 2016 (na descrição de cada vídeo há um índíce clicável para você abrir trechos específicos)

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