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Budismo, meditação e cultura de paz | Lama Padma Samten

Nós deveríamos juntar essa dor e construir uma Terra Pura de lucidez, de compaixão e de equilíbrio

Ensinamento oferecido por Lama Padma Samten no Ato Inter-religioso pelo Luto e Memória das 100mil Vítimas da Covid-19, promovido pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, CONIC (08/08/2020)
Eu agradeço a oportunidade estar junto com todos vocês. Muito comovente nos comunicar nesse momento. Eu queria trazer algumas reflexões vindas da tradição budista. Nós aprendemos, por exemplo, sobre a vida humana preciosa: o fato de nós termos essa oportunidade de usufruir desse corpo, usufruir com saúde e nós podermos também receber os ensinamentos dos mestres. Ensinamentos maravilhosos, que vêm de uma visão muito elevada e, por vezes, difícil de nós podermos intuir. E a nossa vida também é enriquecida, ela é uma expressão das expressões de existência de todas as outras expressões de vida, que nós inevitavelmente compartilhamos e surgimos juntos nesse tempo.
Então, ainda que a morte não interrompa a vida – as tradições espirituais todas têm essa compreensão – nós entendemos que a impermanência é inevitável, ou seja, esse tempo da morte termina ocorrendo. Ainda assim, nós não temos pressa. A gente poderia aproveitar esse tempo de espiritualidade, de crescimento, de prática, de inter-relação com várias expressões de vida. E por essa razão a gente evita a morte, a gente faz tantos esforços para que as pessoas possam ter suas vidas.
Mas ainda que haja esses nossos esforços, a impermanência é inevitável e surge esse desafio: o que nós fazemos com essa dor? Nesse tempo, as dores são muito grandes, elas são muito intensas. Os números que nós estamos vendo, ligados ao Covid são espantosos. Ninguém podia imaginar cem mil pessoas falecidas nessa conexão. Três milhões de pessoas afetadas. E, se nós imaginarmos que nessa proporção possamos chegar a 15% da população brasileira afetada, nós vamos ter um número inacreditável de pessoas falecidas ainda. Então, nós estamos talvez no início desse processo.
Essa visão traz esse aspecto apocalíptico, distópico, muito perturbador. Algumas pessoas pensam que isso vem por uma construção, por ações e omissões ligadas às próprias autoridades. Eu acho que a gente deveria colocar também em proporção, deveríamos lembrar – se nós estamos aspirando compreender esse aspecto apocalíptico – os dias 6 e 9 de agosto, quando se relembra o ataque atômico nuclear à população japonesa no final da guerra onde morreram aproximadamente cem mil pessoas em cada um dos ataques. Nós deveríamos lembrar, ainda, que nós estamos num tempo em que a destruição não é apenas pela doença. Nós, como seres humanos, estamos destruindo a vida em muitas diferentes expressões dentro do planeta: na terra, no ar e na água. Então, o que nós deveríamos fazer, nesse momento, é juntarmos essa dor. Nós não deveríamos apagar essa dor. Nós deveríamos juntar essa dor e tomar a decisão de, a partir do nosso coração, construir um novo mundo: uma Terra Pura de lucidez, de compaixão e de equilíbrio, que eu acredito que é o lugar espiritual do qual nós podemos depois ascender aos mundos verdadeiros, próximos às expressões máximas da visão espiritual.
Então, eu agradeço a todos e rezo pelas pessoas que ainda lutam pela vida, por aqueles que eventualmente ainda vão se contaminar. Que todos tenhamos coragem de pensar de forma elevada, de construir o que for elevado.
 
Ensinamento oferecido por Lama Padma Samten no Ato Inter-religioso pelo Luto e Memória das 100mil Vítimas da Covid-19, promovido pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, CONIC (08∕08∕2020)
 
Transcrição e edição: Gislene Macêdo
Revisão: Carol Capelli e Elise Bozzetto

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