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Budismo, meditação e cultura de paz | Lama Padma Samten

O que fazer quando outras pessoas abusam de nossa generosidade?

Os bodisatvas não desistem. Não perdem a paciência, não alteram a energia, eles se movem, e o desafio deles é atuar desse modo: não se perturbar, usar ação pacificadora, ação incrementadora e ação irada. Quando tudo desaba, eles seguem ajudando.  Eles não têm a aspiração pelo controle, então também não se frustram.  Que é uma coisa um pouco paradoxal porque, ainda que eles tenham a energia e estão ajudando, se aquilo fecha, eles também não entram em crise.

Os bodisatvas têm energia estável e meios hábeis. Então, se alguém abusa, essa é uma condição natural, os seres são todos abusadores, porque eles são seres do mundo! Eles seguem por impulso, eles gostam ou não gostam. Eles botam aquilo na frente e vão fazendo o que acham que têm que fazer.
Os bebês são super abusadores, eles choram na hora errada, e na hora que a gente terminou de trocar a fralda eles “brrrrummmmm…” e tudo está sujo de novo e dá aqueles problemas todos. Tem que trocar tudo de novo. Assim que eles sentam começam a disparar ordens, quando começam a engatinhar fazem tudo o que não devem… são totalmente abusadores!  Mas se as mães não forem bodisatvas e os pais não forem bodisatvas, eles vão enlouquecer no meio disso. Se eles resolverem botar ordem na casa, estão perdidos! (risos)  É melhor não botar ordem, o melhor é ter paciência, olhar de uma forma mais elevada e absorver e neutralizar aquilo,  é uma ação acolhedora, uma ação inclusiva. O fato de ser abusador ou não, não é o caso. É saber se nós temos condições de poder absorver, ter paciência  e ajudar as pessoas no nível em que elas precisam ser ajudadas. Eventualmente a gente não tem essa habilidade, não tem o meio hábil, não tem a paciência, não tem a estabilidade, aí nós vamos fazer o que nós podemos.
Se a gente se sentir abusado e não tiver um meio hábil é melhor se distanciar, e não fazer ações negativas a partir disso. Também é super importante entender a nossa dificuldade, a nossa incapacidade, aspirar que a gente no futuro tenha capacidade de ajudar melhor. Ajudar também não é concordar. A paciência não é concordar. A paciência é, em primeiro lugar, a ação de poder, de não se perturbar, em segundo lugar a ação pacificadora do outro, a ação incrementadora, e a ação irada.  Aquilo que precisa ser movido, no nível que precisa ser movido, a gente move. Se não dá, a gente não move. Nem sempre a ação irada é útil.Mas o bodisatva sabe que, na falta das quatro ações, que incluem a irada, o estágio seguinte é Maharaja.  Maharaja vai cobrar com carma!
A ação irada, eventualmente, consegue interromper aquilo, não chegar em Maharaja, não chegar no fruto cármico, não chegar na confusão. Agora, se chegar na confusão, o bodisatva não desiste, ele segue ajudando no nível que dá.  Às vezes a gente não tem o meio hábil, não tem como evitar. As pessoas têm estruturas cármicas e têm autonomia. Se elas quiserem, elas conseguem ultrapassar a boa vontade do outro e criar o que quiserem criar, elas criam, elas têm essa habilidade,  elas têm a natureza de Buda, elas têm a liberdade de construir as coisas como elas querem. Mas os bodisatvas não desistem. Não perdem a paciência, não alteram a energia, eles se movem, e o desafio deles é atuar desse modo: não se perturbar, usar ação pacificadora, ação incrementadora e ação irada. Quando tudo desaba, eles seguem ajudando.  Eles não têm a aspiração pelo controle, então também não se frustram.  Que é uma coisa um pouco paradoxal porque, ainda que eles tenham a energia e estão ajudando, se aquilo fecha, eles também não entram em crise.
Várias vezes, observei os tibetanos, como S.S.  Sakya Trizin contando as tragédias do Tibete. Eu olhava para o rosto dele, ele não se perturbava! Da mesma forma Chagdud Rinpoche, vi vários mestres narrando, ainda que eles tenham passado por situações super difíceis, contraditórias, abusivas… eu não via a sensação de censura, de criminalização do outro, não via isso.  Eles estão vendo a inevitabilidade da ausência de harmonia no mundo. Eles não têm a ilusão da harmonia, nem tampouco a ilusão de que eles agindo, ou os Budas agindo, o mundo vai endireitar. Eles não esperam isso. No CEBB, a gente espera isso… (risos)  Esse é o aspecto relativo, a gente fala em Terra Pura, reencantamento, a gente imagina que a gente pode melhorar.   E eu acredito que deva melhorar. Mas não acho que seja absoluto, isso não é absoluto.  E também não é o caso de a gente se frustrar, a gente anda, a gente vai sempre encontrando as contradições inerentes às coisas.  Mas a gente não deixa de se mover, a gente segue se movendo. Isso, por uma parte,  é um treinamento nosso, de outra parte isso melhora mesmo.  O mundo melhora. A gente pode melhorar o mundo.
Eu acho bonito, às vezes, esses relatos, como o do Kentaro Sugao contando para nós sobre o templo lá de Terra Pura. Os velhos japoneses estão bem velhos agora.  Eles eram jovens japoneses. Agora eles são velhos japoneses, e o templo vai ficando vazio, porque as novas gerações seguem um pouco, mas não seguem.  Então o budismo étnico japonês vai decaindo. No entanto, os velhos seguem indo lá. Se nós estivéssemos lá, a gente ia pensar: “Para aí, a gente tem que fazer alguma coisa!”. Eles estão seguindo e vão até o fim. Isso é bonito de ver, esse natural ocaso, o sol estava se pondo. Mas eles, dignamente, vivem o final do tempo. Acho isso bonito. Sem controle, sem a frustração de dizer: “nós fizemos errado”. Não. Nós seguimos os mestres, nós fizemos aquilo, e agora o tempo é diferente, então isso termina conosco. Nós estamos indo, vai terminar. Eles não têm a sensação de que o Budismo termina, o Buda ultrapassa aquilo tudo. Então, essa confiança é considerada uma grande qualidade. Essa confiança no Buda, nesse nível, mesmo que o Budismo desapareça, ele ressurge, porque a gente tem a clareza do que é a lucidez da mente. A lucidez da mente termina retornando, ressurge, é completamente certo!
Ensinamentos oferecidos por Lama Padma Samten em 11/09/2018. 
Transcrição: Clarissa Gleich
Edição: Stela Santin 

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