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Todos os seres têm a natureza de Buda | Lama Padma Samten

Trecho do ensinamento oferecido por Lama Padma Samten na primeira manhã de 2016, no templo do CEBB Caminho do Meio
Eu queria começar lembrando que nos ensinamentos do Buda está presente esse aspecto: todos os seres têm a natureza de Buda. Isso não é uma coisa muito fácil da gente entender. Quando estamos presos dentro de nossas limitações, dentro das bolhas de realidade, pensamos: “Bom, eu não sei se eu tenho a natureza de Buda ou não tenho.” Ainda pior as coisas ao redor. Os inimigos, nem pensar. Se a gente imaginar os outros seres, aí mesmo que a gente não consegue entender.
Então isso é um ponto super importante. Se a gente simplesmente contemplar a natureza de Buda dos seres, isso já é uma prática de topo, uma prática extraordinária. Ela pode parecer ultra simples, esquemática, estranha, mas é uma grande prática — simplesmente contemplar o fato de que os seres têm a natureza de Buda.
De modo geral, quando a gente pensa assim, isso não adianta muito porque se a gente não entende bem o que seria a natureza de Buda, como a gente vai ver isso nos outros? Mas isso seria como uma culminância do caminho de Guru Ioga: reconhecer a natureza de Buda em todas as direções, nos vários seres. Não que a gente vá criar isso, não que a gente vá construir artificialmente essa visão, mas a gente reconhece aquilo que está incessantemente presente. Sempre foi assim. A gente não via isso, nem em nós, nem nos outros seres, menos ainda nas plantas, nos vírus, nas bactérias, no Zika vírus, no Aedes Aegypti… A gente não reconhece isso, com certeza. Difícil também reconhecer a natureza de Buda no pessoal do agronegócio, que está devastando as florestas, mas eles têm a natureza de Buda. Aí tem seres que tem a natureza de Buda de forma mais expressa e outros de forma mais profunda, mais difícil de localizar, mas está lá, intacta.
Quando olhamos isso, na verdade estamos olhando os ensinamentos sobre Guru Ioga, o fato de que todos os seres têm a natureza livre, eles não são as identidades, eles não são os personagens que estão manifestando. Isso, na verdade, é um pouco óbvio, né? Mas a gente não percebe isso. A gente vai passando de pensamento para pensamento, de bolha para bolha… Se a gente fosse alguma vez alguma dessas coisas, a gente não conseguiria sair daquilo. A gente salta de uma coisa para a outra. O aspecto mais visível, de fato, é que nós não estamos fixados: nem em identidades, nem em manifestações, nem em aparências. Nós estamos constantemente manifestando outras experiências e outras experiências.
A base da nossa mente não tem propriamente uma experiência fundamental, no sentido discriminativo, separativo, aparente. Ela tem a liberdade de manifestar diferentes aparências. É óbvio. É o que nós estamos fazendo o tempo todo. Nós não somos nenhuma das aparências que se manifestam. Por mais que a gente queira, a gente não consegue se fixar nas aparências. Esse é o sentido profundo da vacuidade. Nenhuma aparência fica fixa. Nós transitamos por dentro das aparências todas, incluindo sentimentos, estruturas cármicas, todos esses aspectos flutuam o tempo todo.
Por exemplo, se a pessoa se dedicar a localizar carmas dentro de si e ainda tiver justificativas astrológicas ou de outras experiências que ela teve durante essa própria vida, como coisas psicológicas (“Porque a minha mãe era assim, então hoje eu não me livro mais disso e daquilo…”), nem isso a pessoa consegue. Passa um tempo, passa outro tempo e pronto! A gente vê essa mobilidade. Se a pessoa não é uma grande qualidade, pelo menos a pessoa pode dizer “Eu sou a desgraça, disso eu não me livro”. Mas a coisa mais frustrante é a pessoa que está fixada em uma coisa negativa e lá pelas tantas ela ultrapassa aquilo: “Eu passei 20 anos presa em um mal-estar, em uma raiva ou em um medo, aquilo foi uma perda de tempo, né? Eu também não era aquilo.” Às vezes a pessoa, não conseguindo se manifestar de uma forma positiva, pelo menos uma coisa negativa bem firme ela encontra, mas nem isso resiste! Então isso é um aspecto profundo.
É essencialmente inútil nós localizarmos características e tentarmos fixar essas características como se nós fôssemos aquilo. Podemos dizer “Bom, o meu corpo, esse eu sou!” A pessoa dorme à noite e esquece do corpo, esquece das propriedades, esquece de tudo… Mesmo que, antes de dormir, ela amarre o pé na cama (“Essa cama é minha e onde eu for ela vai junto…”), aquilo não adianta nada. Se a pessoa dormir dentro do carro (“Eu e meu carro somos um…”), quando ela começou a sonhar, esqueceu do carro, sumiu aquilo, ela foi para uma bolha de realidade totalmente diferente e nem vai se dar conta de que não está com o carro.
Então, a natureza da nossa mente é livre. As realidades que vivemos flutuam dentro das bolhas. A característica principal de nós mesmos é o espaço, a espacialidade, a liberdade. Esse corpo se manifesta desse modo. E nós nos manifestamos também ligados a ele. Assim como em um jogo de xadrez, nós jogamos na dependência das peças — aquilo é o corpo do jogo. Nós operamos com esse corpo. Durante o sonho, nós operamos com o corpo do sonho. E assim vai. De acordo com as características com as quais estabelecemos uma conexão, nós jogamos um jogo. Essa inteligência dentro daquele jogo se manifesta como nós mesmos. Nós não somos isso, mas nós nos manifestamos daquele modo. Estamos livres dessa manifestação, mas ao mesmo tempo usamos essa manifestação, como um exercício. […] Nós não somos nossas marcas cármicas. Desgraçadamente nem isso nós podemos pegar para dizer “Eu sou minha desgraça!” Tem sempre o dia seguinte, o dia em que acordamos e ultrapassamos nossas limitações porque nós não somos aquilo.

Vídeo da palestra completa

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