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Como compreender atos de violência?

Transcrição de uma resposta do Lama Padma Samten a uma pergunta durante retiro no CEBB Caminho do Meio (Viamão, RS), em 29/03/14.
Chagdud Rinpoche dizia que a gente deveria ter, pelo menos, igual compaixão pelos seres que agridem e pelos seres que são agredidos, pelo menos a mesma compaixão.
Quando a gente vê um ato de violência ou alguma coisa horrível, a gente deveria entender assim: a pessoa que fez essa ação horrível, provavelmente, depois de 15, 5 minutos, está profundamente arrependida. Está super mal. A pessoa foi colhida pelo carma. Ela é uma vítima do carma também. Ainda que a gente tenha a tendência de acusar, culpar e condenar, a pessoa agressora foi vitimada pelo carma, mas ela não é o carma. O carma veio e se manifestou e a pessoa fez o que fez. Então, do mesmo modo que a gente ama e depois deixa de amar, a gente também tem raivas e tem loucuras e depois deixa de ter as raivas e as loucuras. Quando a gente ama e deixa de amar, a gente diz: “eu não sou mais aquele”. Quando a gente teve loucuras e deixa de ter as loucuras, a gente ainda é aquilo, mas ao mesmo tempo não é. Mas as pessoas vão dizer: “não, você é o mesmo” e nos condenam. Mas nós não somos mais aquela pessoa.
O fato é que as estruturas cármicas nos alcançam, nos arrastam e se transferem para outros seres, para outras direções, e assim seguem. É um conjunto de aspectos sutis. Eles não são secretos, eles são aspectos sutis, que se arrastam produzindo os sofrimentos que a gente vê ora aqui, ora ali. Então, a pessoa que agride está sob efeito de algo desse teor. E a pessoa que é agredida também, ela tem esse sofrimento.
A gente tem a tendência a culpar, condenar e a piorar a vida do agressor. Mas, na verdade, ele está afetado por um obstáculo. E nós não temos nenhuma segurança de não sermos afetados por isso. A gente não pode dizer que não vai aprontar, que não vai fazer alguma coisa horrível.
Para os tibetanos isso é um tema muito importante, porque eles dizem “se eu não conseguir remover essas componentes negativas eu posso renascer de uma forma inadequada, num mundo inferior, num mundo dos seres que causam complicações, no mundo dos infernos ou dos seres famintos”.
Há um exemplo de um diálogo que o Chagdud Rinpoche contava que aconteceu com ele. Uma senhora se aproximou dele e disse: “Mestre, eu fico muito feliz pelo seu ensinamento. A partir do seu ensinamento eu tenho certeza que vou ter um renascimento favorável. Eu eliminei essas negatividades”. E o Chagdud Rinpoche disse: “Eu fico feliz pela senhora, mas eu mesmo não sei o que vai acontecer comigo”.
Então, essas estruturas cármicas podem nos arrastar. A gente pode ficar suscetível a elas. A gente deveria entender isso. Isso é compaixão: quando a gente entende como os seres estão se sentindo e aspira que se libertem do sofrimento. E amor é quando a gente consegue ver qualidades no outro, apesar dos obstáculos. A gente deveria desenvolver esse olhar de compaixão e amor. Mesmo quando as pessoas fazem coisas negativas, a gente deveria olhar e ver qualidades no outro.

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