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Surgimento luminoso

Resposta de Lama Padma Samten à uma pergunta surgida durante o estudo sobre As Oito Consciências e as Cinco Sabedorias, oferecidos em março (parte 1) e abril (parte 2) de 2023.

 

Surgimento luminoso das aparências

O ponto é que para poder chegar nisso que você está descrevendo vamos operando com a contemplação da operação da consciência. Podemos retornar àquele ponto do cubo e ver que o cubo mesmo surge e que ele surge como se fosse externo. Aquele objeto externo não é um raciocínio, é uma visão. Aí eu mudo a mente e vejo outra visão. Mas não é assim: “então estou pensando que é uma outra coisa”. Não, eu vejo. Vejo com os olhos uma outra coisa. Então dizemos que a luz que atinge os olhos é trabalhada pela consciência, aquela experiência é trabalhada pela consciência. A consciência é que produz sempre, é o agente da manifestação do aspecto luminoso da mente. A consciência não é alguma coisa que afere uma realidade, a consciência é uma coisa que constrói luminosamente a realidade

Nós estávamos tomando o exemplo da luz, agora podemos tomar o exemplo da voz. Nós não ouvimos a voz, nós acessamos instantaneamente o significado do que está sendo falado. É óbvio que o que nós temos é o som, mas o que nós vemos é o significado. Então nós vemos diretamente o aspecto luminoso da realidade, no caso, o significado. E nós podemos perceber que se deslocamos a base da nossa mente em uma outra direção o significado também muda. Do mesmo modo que com o cubo, se eu alterar a posição da base da mente eu vejo outra imagem – mas não é que eu raciocine sobre outra imagem, eu vejo outra imagem. Do mesmo modo, quando nós estamos ouvindo alguma coisa nós alteramos a base da mente e aquilo que nós estamos entendendo muda para uma outra direção, então o significado daqueles sons se altera. Ele se altera não porque houve um raciocínio, mas porque nós acessamos aquilo de forma direta. 

Quando nós estamos vendo um filme, por exemplo, nós estamos acessando imagens e acessando sons. Aquela realidade vai ser produzida luminosamente pela consciência associada aos olhos e associada aos ouvidos. Essa consciência, em verdade, não se divide em olhos, ouvidos, como nós estamos vendo, então nós observamos pelas imagens do filme e os sons como referentes a uma única realidade. Não é uma realidade dos olhos e uma realidade dos ouvidos, é uma única realidade. Assim nós vamos chamar isso de sexta consciência. Mas o ponto importante é perceber que a consciência é algo que produz luminosamente aquilo que vai ser visto, enquanto que a imagem que nós temos de consciência é de algo como um testemunho, algo que afere uma realidade que já estava presente. 

 

Sensações de corpo

Nós também podemos imaginar as sensações de corpo como energia, como dor, como várias sensações internas, nós também podemos imaginar que elas são como os sons e como a luz. Agora eu passo a observar que eu não vejo nem o “som” nem a “luz” das impressões do corpo, mas eu acesso imediatamente o que a consciência vai produzir, por exemplo, uma sensação de aflição, uma sensação de prazer. Esse é o ponto, nós estamos olhando e vendo como a consciência está produzindo esses fenômenos.

Aí eu observo que a consciência que está vendo o fato de que o som surge como significado, que a luz surge como aparência e as sensações de corpo surgem como sensações de corpo também, é independente dos significados que brotam dos sons, é independente das aparências que surgem dos olhos e da luz e é independente das sensações de corpo que surgem nas sensações de corpo.

Nós temos trabalhado, especialmente, os aspectos de som e aparência, mas não temos trabalhado – a não ser no Satipatthana – a contemplação do corpo, então há essa lacuna na nossa prática. Ainda que estejamos mais espertos com relação às aparências externas e aos próprios sons, nós não temos desenvolvido uma prática consistente na parte do tato e das sensações internas do corpo, que são temas essenciais na proximidade da morte. Quando nós nos aproximamos de experiências muito aflitivas das sensações de corpo, a liberação dessas sensações de corpo vem desse processo que aqui está descrito: não é um raciocínio, não é uma troca de paisagem, não é uma troca de bolha, não é uma transmigração, não é a suspensão da experiência, mas é o aprofundamento mesmo dentro da experiência enquanto reconhecimento de que aquilo que está sendo visto é uma manifestação da própria consciência. Quando nós repousamos sobre a base que vê a manifestação da consciência nós estamos livres da fixação à base que reifica as aparências da consciência e que se move dentro das aparências. 

Um exemplo do que é mover-se dentro das aparências é dar um sentido sólido e nós vermos sensações de gostar ou não gostar, de desejo e apego com relação a imagens que brotam em um filme. A experiência de liberdade quanto a isso é justamente nós contemplarmos como que a consciência está produzindo, a partir das imagens e dos sons, as experiências de desejo e apego e, nesse caso, nós estamos em uma base livre contemplando o surgimento do fluxo de aparências e dos fluxos da mente.

 

Essa base livre é a base que está livre do bardo da vida, da meditação, do sonho, do morrer, do pós morte e do renascer.

Essa é a natureza livre da nossa mente, que não fica presa pela consciência. 

Essa é a natureza livre da nossa mente, que nunca ficou presa às aparências, aos mundos criados. 

Essa é a natureza que não tem origem, que não tem fim, não tem tempo, não tem localização. 

Esse é o ponto que nós buscamos focar sempre.

 

Transcrição de Polliana Zocche.
Para acessar os ensinamentos do estudo As Oito Consciências e as Cinco Sabedorias: parte 1 e parte 2.

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