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Budismo, meditação e cultura de paz | Lama Padma Samten

O Casamento e as Cinco Sabedorias

Explicação dada por ocasião de um pedido de bênção de casamento, no final do retiro “Desenvolvendo a Confiança na Natureza Primordial”, em Setembro de 2014.

Eu vou começar com o lado bom: a felicidade é possível. Chagdud Tulku Rinpoche sempre lembrava que o casamento é a prática das seis perfeições, o ambiente perfeito para a gente manifestar compaixão, amor, alegria, equanimidade, que são as quatro incomensuráveis, e as seis perfeições: generosidade, moralidade, paz, energia constante, concentração e sabedoria. Só que isso não são apenas qualidades, elas são perfeições. O aspecto de perfeição seria assim, por exemplo, quando a gente pratica generosidade, a gente não fala: “anote aí, eu tô sendo generoso, bote na minha coluna de méritos”. A gente não contabiliza. Moralidade também. Moralidade significa o quê? Nós não vamos trazer sofrimento ao outro, a partir de uma sensação de vantagem. Eu trago o sofrimento e aí estou lucrando alguma coisa. Isso seria a quebra da moralidade. Só que essa perfeição da moralidade significa nós fluirmos nisso de uma forma completamente natural. Então, aquilo que for bom para o outro, é bom para nós. Esse é um aspecto superimportante de guardar a qualidade dessa relação.
Aí vem, então, a paz. A tranquilidade não vem das circunstâncias que nós estamos vivendo, a tranquilidade vem de uma fonte primordial, como nós estávamos vendo aqui. No contexto do Mahamudra, a tranquilidade vem de Mahamudra, o não-construído. Nós temos esse equilíbrio, a partir deste equilíbrio a gente se manifesta no mundo. O mundo está todo desajeitado, mas o fato de as aparências serem desajeitadas não faz com que a gente perca a paz, porque a nossa paz não depende das aparências. Essa é a perfeição da paz. Se a gente esquecer disso, nós vamos ter problemas, com certeza.
Aí vem a energia constante. É quando nossa energia não brota das circunstâncias, não brota de um projeto. Ela não está em faixa 1 ou 2. Ela tem uma origem primordial, não construída, ela independe das circunstâncias. A nossa energia vai precisar encontrar essa forma.
Depois a concentração. O próprio ambiente não deveria romper a nossa capacidade de foco. Foco lúcido. Então, na medida que nós desenvolvemos a concentração, nós desenvolvemos também a sabedoria. Se nós temos a paz, a energia constante, a concentração, a sabedoria surge de modo natural. É um ambiente perfeito para a gente praticar desse modo. Assim, os votos de casamento deveriam ser os votos de praticar as qualidades. Porque, se a gente praticar as qualidades, aí aquilo tudo flui. Flui desimpedido. Flui bem, funciona.

As Cinco Sabedorias

Aí a gente tem ainda as cinco sabedorias. É superimportante como prática que a gente consiga desenvolver a compreensão do outro no mundo dele. Essa é a nossa prática; no mínimo, café na cama de manhã. [risos] Trazer toalha pro banho aquecida. Uma coisa simples. Entender o outro no mundo dele. O outro aspecto é que a alegria do outro seja a nossa alegria. Isso às vezes parece que nos coloca numa posição subalterna, “que a alegria do outro seja a nossa alegria”. Mas se não é assim, quando? Se a nossa mente é livre, nós podemos nos alegrar com várias coisas, não apenas com o que acontece conosco. Então, quando a gente é capaz de se alegrar com o que acontece com as outras pessoas, de bom, a gente vê as coisas boas e se alegra, isso é a sabedoria da igualdade. Nós vamos encontrar o caminho da felicidade. Porque, se nós somos felizes só de acordo com o que acontece conosco dentro dos nossos projetos, das nossas limitações, daí a nossa capacidade de alegria é muito limitada. Esse processo da grande felicidade do encontro é que a gente consegue se alegrar com o que acontece com as variadas pessoas, da família, e essa família também se amplia, ela vira a sanga, vira o universo. A gente vai ampliando esse processo. Então, essa é a sabedoria da igualdade. Aí tem a sabedoria discriminativa. A sabedoria discriminativa é assim: nós nos construímos de forma artificial e assim nós estamos andando no mundo. A impermanência existe. As coisas surgem e elas cessam. Mas o aspecto primordial não cessa. Então, mesmo que tudo cesse, é o aspecto aparente que cessa, o aspecto sutil segue. A gente mantém essa compreensão na sabedoria discriminativa.
Aí vem a sabedoria da causalidade. A gente evita produzir ações que vão causar problemas e a gente produz ações que vão ser favoráveis, que vão resultar em benefícios. Por outro lado, quando ações aflitivas surgem ao nosso redor, a gente mantém a energia, a gente não flutua. Isso é a chamada ação de poder: ainda que tudo gire em volta, nós nos mantemos equilibrados. Porque é do equilíbrio que brota a lucidez e a capacidade de ação. Se um desequilíbrio nos tira o eixo e a capacidade de lucidez, nós estamos superfragilizados. É necessário que a gente mantenha isso; mesmo que a gente não saiba em que direção nós vamos, a gente mantém o equilíbrio. E não se sente atingido, alvejado ou perturbado. Então, essa é a sabedoria da causalidade. Aí nós temos a sabedoria do Buda Vairocana, a sabedoria de Darmata. Ou seja, é como se fosse a compreensão de Mahamudra: tem uma natureza que está além das circunstâncias. Se nós podemos repousar nessa natureza que está além das circunstâncias, isso é uma boa coisa. O equilíbrio é maior, transcende as várias vidas.
Agora nós vamos finalizando o retiro, e eu vou fazer as prostrações que simbolizam os votos, os votos de manter as cinco sabedorias dos diani budas, as quatro qualidades incomensuráveis e as seis perfeições. Se vocês quiserem, podem fazer as prostrações, se não quiserem, não precisam, também. Aqueles que quiserem também fazer as prostrações com a sensação de que estão fazendo esse voto, podem fazer também. Aí o voto está valendo. Naturalmente, o voto de manter a clareza das cinco sabedorias, das quatro qualidades incomensuráveis e das seis perfeições não é um voto que precise de alguém para fazer junto. Nós podemos fazer individualmente esses votos. E nós podemos mantê-los também individualmente, mesmo que a relação por algum momento possa oscilar, não consegue entender o outro, aquele que consegue entender mantém esse voto. Nós individualmente fazemos esse voto que é o voto de Mahayana, o voto de bodichitta. E, assim, nós seguimos até atingir a iluminação completa, até que Mahamudra aflore na nossa mente. A imagem que eles usam é uma lua que parte da lua nova, porque ela começa a clarear aos poucos e vai se ampliando. Assim nós seguimos no caminho. Então, nós somos iogues do cotidiano. Nós podemos praticar em meio às famílias, nos vários papéis que a gente assume. Não tem nem sentido o que eu ensinar sem a gente manter a lucidez sobre o que está acontecendo. Reconhecer as bolhas e o espaço livre da mente. E como eu estava explicando hoje, vocês avaliem se a compaixão é possível. A compaixão é garantia de sanidade. As cinco sabedorias, mas a compaixão principalmente, se vocês tomarem só a compaixão, vocês já vão entender isso. […] da nossa estabilidade, da nossa capacidade de felicidade. Então é isso. Nós vamos fazer as recitações na forma como os alunos do Buda faziam, que é em Pali. Então, essas prostrações equivalem aos votos. Depois eu vou dar as bençãos. Eu vou me virar para o altar agora e a gente vai começar.

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